quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

A necessidade de prudência para que alguém seja batizado e admitido como membro na igreja


Ninguém duvida de que muitos que aceitam a Jesus Cristo como seu único e suficiente Salvador e desejam se batizar, o fazem na convicção de que verdadeiramente estão crendo na mensagem do Evangelho que lhes foi ministrada e operada pelo Espírito Santo em seu coração. Não somos Deus e, portanto, não podemos saber as reais motivações dos corações das pessoas. Entretanto, gostaria de refletir sobre a atitude de muitos pastores e igrejas que, baseando-se somente na passagem de Filipe e o eunuco em Atos 8.26-38, acham que se alguém, após ter aceitado a Jesus e pedir para ser batizado, deve sem maiores formalidades, ser batizado em águas e recebido como membro na igreja.

Como disse e repito, não temos como aquilatar o que se passa no interior do indivíduo. Se o que lhe motiva a descer às águas do batismo, é a genuína convicção proveniente do Espírito de Deus que levou-o a aceitar os conteúdos do Evangelho, ou se estamos diante de um farsante interesseiro, ou um iludido, ou até mesmo um lobo (At 20.29), desejoso de adentrar ao curral das ovelhas, para tentar arrebatá-las da mão do Supremo Pastor.

Por isso, defendo ardentemente a postura de se provar, de se testar a convicção de quem tenha aceitado a mensagem do Evangelho. De não permitir que alguém, após ter, supostamente se convertido ao Senhor Jesus, ser levado ao batismo em tão pouco tempo. Não suporto a ideia de que muitos tem vindo para nossas igrejas movidos por interesses outros, e não pelo mover genuíno do Espírito de Cristo no seu coração. Não acredito que a multidão de pessoas nas igrejas, nas variadas denominações evangélicas tenham uma genuína convicção de salvação. As igrejas estão inchadas de pessoas (muitas delas já batizadas) mas que na realidade não nasceram de novo.

Ah, mas muitos pastores que conheço poderão dizer: "Mas quem sou eu para negar o batismo a alguém que aceitou a Jesus? Se a pessoa pedir para ser batizada, eu consinto e depois vamos ensinando ela nos caminhos do Senhor." Não consigo conceber tal raciocínio.

Quem garante que ali não estará uma pessoa somente "convencida" e não verdadeiramente "convertida"? Se estiver apenas convencida, os pastores terão muito trabalho com ela. Se for convertida, ela procurará trabalhar para o Reino de Deus de forma genuína enquanto cresce o crescimento de Deus (1 Co 3.6,7).

Dizem os pastores que assim procedem que estarão ensinando a pessoa após o seu batismo. Ora, logicamente que o ensino, o discipulado, é algo imprescindível a todos os cristãos, não só aos novos convertidos. Mas é diferente na questão dos neo-conversos. O ideal é que a igreja pudesse submetê-los a um período de acompanhamento pessoal onde se pudesse observar in loco o testemunho daquele novo cristão. Esse acompanhamento seria feito por um cristão maduro, que soubesse discipular, que soubesse aconselhar e orientar, sendo supervisionado pelo pastor da congregação.

Também deveria ser estabelecido para o novo convertido estudos das doutrinas fundamentais da fé cristã. Logicamente, não seria um estudo exaustivo, mas substancioso o suficiente para esclarecer e assim permitir que o novo crente pudesse avaliar se realmente deseja seguir no caminho da fé e da renúncia pessoal no discipulado cristão.

Necessária se faz esta precaução. Têm se acentuado o pragmatismo dos pastores e igrejas, que desejam ver os templos cheios de pessoas que por sua vez, podem já ter se batizado logo assim que se "converteram". E é evidente que dentre esses há genuínas conversões a Jesus Cristo. Mas o perigo de se ter uma multidão nominal nos bancos de nossas igrejas encontra um precedente na história da Igreja a partir de Constantino.

Ele fez com que as perseguições aos cristãos terminassem através de um Édito de Tolerância ou Édito de Milão (313 d.C.). A partir desta época, o Cristianismo passa a ter um status privilegiado. E populações inteiras passam a ser declaradas cristãs. As distinções entre um crente e um não-crente, que eram tão claras nos primeiros 200 anos da fé cristã, foram bastante obscurecidas. Agora, reino, igreja e estado haviam-se fundido. Bastava alguém nascer neste contexto para ser tido como um seguidor de Cristo.

A Igreja deste tempo, que num lento processo deu origem à Igreja Católica Romana, foi então acrescentada de muitas pessoas sem terem se convertido verdadeiramente a Cristo. Tornar-se membro tornou-se algo vulgar e fútil. Qualquer um que desejasse, poderia descer às águas batismais sem nenhum empecilho. Ed Hayes, em seu excelente livro A Igreja - O Corpo de Cristo no mundo de hoje (Editora Hagnos), ensina que quatro devem ser os requisitos para admitir-se alguém como membro: 1. Um coração regenerado; 2. Uma confissão de fé verossímil; 3. O batismo voluntário em obediência a Cristo; 4. Uma vida cristã exemplar. Ele acrescenta ainda que a conversão dos pecadores é essencial para assegurar uma membresia convertida na igreja e de que essa membresia regenerada é essencial se a igreja quiser manter a sua pureza.

Justo Gonzalez, historiador cristão, nos conta que só quem havia sido batizado podia estar presente durante a comunhão, ou seja, a Ceia do Senhor. Gonzalez explica que na primitiva comunidade cristã, tão logo alguém cria era batizado e isto era possibilitado porque a maioria dos conversos vinha do Judaísmo e já possuía um fundamento para compreender o Evangelho. Porém, à medida que mais gentios foram sendo convertidos, tornou-se imperioso um período de preparo e prova antes da ministração do batismo. Ainda segundo Gonzalez, este período durava aproximadamente três anos nos princípios do século terceiro d. C. Durante este período, o catecúmeno (palavra grega que designava o aprendiz da fé cristã, aquele que recebia a catequese, ou seja, que era instruído à viva voz, para distinguir-se daquele ensino realizado sozinho através dos livros, a catequese sempre era feita com um instrutor) recebia instrução acerca da doutrina cristã, e tratava de dar mostras em sua vida diária da firmeza de sua fé.

Finalmente, um pouco antes de seu batismo, segundo Gonzalez, era examinado, às vezes em companhia de seus padrinhos, e era admitido na classe dos que estavam prontos para ser batizados. Em geral, o batismo no período apostólico e pós-apostólico, era ministrado uma vez ao ano, na Páscoa, no Domingo da Ressurreição ainda que logo e que por diversas outras razões, começasse a ser administrado em outras ocasiões. Em princípios do século terceiro, os que estavam prontos para serem batizados, jejuavam durante a sexta e sábado, e seu batismo tinha lugar na madrugada de domingo, como na ressurreição do Senhor.

Este precedente histórico deveria fazer nossos líderes condescendentes de hoje pensarem a respeito e considerarem o que estão fazendo. Estão vulgarizando algo que deveria ser feito com restrições a fim de se assegurar minimamente de que alguém que esteja descendo às águas batismais seja legitimamente convertido a Jesus Cristo. Nossa época é mesmo de afrouxamento de padrões. Acredito piamente de que agrada a Deus a postura da liderança em submeter os neo-convertidos a um período de preparo e prova. Não vou declinar sobre o tempo para exercer esta disciplina, mas note que o indispensável é que o novo crente dê provas reais de sua profissão de fé e que seja submetido ao ensinamento, à instrução na nova fé para que ao submeter-se às águas batismais, seja de forma absolutamente voluntária e consciente.

Sabemos que Deus é o único que julga nossos corações. O único que sabe de nossas motivações ocultas. Mas é necessário exercer o discernimento para que possamos nos assegurar de que somente crentes cujos pecados foram perdoados e podem em sã consciência dar um testemunho de sua fé, façam parte da Igreja de Cristo.

O batismo é uma confissão pública de nossa fé em Jesus. É uma das ordenanças do Senhor, juntamente com a ceia. Algo belo e de muita responsabilidade. Proclama nossa identidade com Cristo de forma aberta e visível. Convém pois que os marcos que muitos estão retirando nos dias de hoje, sejam recolocados para o bem da Igreja, que é o Corpo de Cristo. Está escrito no profeta Malaquias: "Então voltareis e vereis a diferença entre o justo e o ímpio; entre o que serve a Deus, e o que não o serve" (3.18). Por causa deste descuido em admitir de qualquer forma o novo cristão em ser batizado, o mundanismo cresce nas igrejas a cada dia. Até mesmo a ceia do Senhor nestes lugares está perdendo também seu caráter distintivo e exclusivista, porque qualquer um que estiver em um dos cultos em que se estiver celebrando esta ordenança, qualquer um que não conheça a Jesus, pode participar do pão e do vinho. Ora irmãos, pão e vinho falam de comunhão dos salvos com o seu Senhor. É algo exclusivo, assim como a salvação. Ela se dá exclusivamente pela fé em Jesus Cristo e em mais ninguém (Jo 14.6). Na igreja primitiva, no momento da ceia do Senhor, aqueles que ainda não tinham feito profissão de fé em Cristo, eram convidados a se retirar. E nem por causa disso, a igreja deixou de crescer por causa desta restrição, que pode parecer antipática a princípio, mas demonstra claramente as distinções que deve haver entre o santo e o profano (2 Co 6.14-18).

Por tudo isso te conclamo: Pense nisso!




4 comentários:

  1. Meu caro articulista, hoje é bem mais provável que os pastores estejam se preocupando com cifras e números do que com conversões genuínas. O fato de Felipe batizar o Etíope não dá direito a criação de doutrinas permissivas e condescendestes com o pecado; o etíope era um prosélito do judaísmo, conhecia o Deus de Abraão e estava apto a descer as águas...Que Deus o abençoe nesta mais nova empreitada.

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  2. Obrigado irmão Otoniel, sinto-me honrado com seu comentário, vamos orar pelos pastores, igrejas e ministérios para que procurem ficar no que foi ensinado por Jesus Cristo e seus apóstolos, conforme preconiza o NT. Que Deus ricamente abençoe vc, família e ministério!

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  3. "Pastorear" cada dia perde seu sentido e sua essência as igrejas estão sendo "Administrada" e não "Pastoreada" como diz em Ezequiel 34. São Pastores "Presidentes" nada contra aos "Presidentes", mas são duas funções distintas.

    Oremos para que DEUS mande verdadeiros Pastores. E que ELE tenha misericordia de nós.

    Parabéns pelo excelente trabalho que vc faz aqui.

    Estarei te seguindo.

    Espero sua honrosa visita no meu humilde espaço virtual, e se for de sua vontade ser também parceiro.

    http://planosdivinos.blogspot.com

    Lá questionamos os nossos planos que nem sempre são os planos de DEUS.
    Fica na paz.


    E

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  4. Considero suas palavras relevantes, também penso da mesma forma em relação aos pastores. Obrigado pela consideração em vista de nosso trabalho, sinto-me honrado por ser um de nossos seguidores. Acessei seu blog, gostei e também da mesma maneira tornei-me seu seguidor. Meu amado, fica na Paz!

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