domingo, 19 de outubro de 2014

Da poesia, da alegria e da ternura entre os cristãos


Está faltando poesia em meio ao povo de Deus. Está faltando alegria entre os eleitos do Eterno.  Estão carentes os discípulos de uma ternura que seja divina e essencialmente constante. Que produza leveza de vida em meio às inevitáveis agruras do cotidiano.

Se toda minha prática como crente em Jesus se resume a uma forma de religiosidade que descarta o amor,  o carinho, a convivência pacífica e cordial, então creio que ainda não consegui compreender o que significa a vida na comunidade dos eleitos.

Essa vida pressupõe uma transformação de caráter tal, que absorverá continuamente das inesgotáveis fontes da Palavra de Deus todos os nutrientes espirituais necessários para vivermos em uma comunidade ideal, ou seja, conforme o propósito divino. E isso em meio a um mundo hostil às virtudes e riquezas do Reino de Deus.

Por isso no primeiro parágrafo me referia à falta de poesia, da alegria e da ternura. Não quero crer que a sublimidade das coisas as quais temos recebido gratuitamente da parte do Eterno, estejam esvaindo-se entre os nossos dedos. Que estejamos perdendo nossa identidade divina por causa da pressão constante do mundo, de nossa natureza decaída e Satanás e os demônios. Na verdade vejo a comunidade dos santos, o Corpo de Cristo, a Igreja, sendo fragilizada a cada dia em vista dos ataques incessantes e variados desses inimigos.

Temos vivido como Igreja do Senhor vidas extremamente marcadas pela religiosidade estéril e paralisante, pelo formalismo em nossas relações, pelo individualismo alienante, pela imitação dos costumes do mundo. Temos diariamente sucumbido à inversão dos valores divinos como se encontram no presente século, temos aceitado de forma passiva algumas das  práticas dos ímpios.

Por isso temos vivido um estranhamento nas nossas relações. Já não procuramos cultivar (se é que já fizemos isso seriamente em alguma oportunidade) a afeição por nossos irmãos. Não procuramos a face de nosso irmão, não nos importamos com seus problemas existenciais. Incorremos naquilo que está registrado em Fp 2.21: "Porque todos buscam o que é seu, e não o que é de Cristo Jesus." Quando nos importamos com nosso próximo, a ponto de procurá-lo, desejando sincera e ardentemente seu bem-estar, estamos cuidando do que é pertinente a Cristo Jesus. Você já refletiu seriamente em algum momento sobre essa verdade?

Sei por experiência pessoal que somos naturalmente tendentes ao erro. De que mesmo contemplados com a presença santa e abençoadora do Deus Trino em nossas vidas, podemos errar, falhar, escorregar, vacilar, tantas e tantas vezes. Mas não poderemos nunca, embora imersos nessa ausência de plenitude da virtude, olvidar de nossos corações a poesia todo-existente que repousa em um viver autenticamente imitador de Cristo. Não podemos deixar de manifestar a alegria que é mesmo inexplicável aos olhos do mundo, em que pesem todas as lutas e os problemas, por causa da presença do Espírito Santo em nosso coração. Não deveremos nunca negar a ternura amorosa uns aos outros pois a prova maior de que somos discípulos dEle está registrada em Jo 13.34,35: "Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros; como eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis. Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros."

Disse anteriormente que temos vivido um estranhamento em nossas relações. A Bíblia fala de que deveríamos cultivar um entranhamento ou seja, um profundo afeto nas relações fraternais, demonstrando terna compaixão pelo outro, amando a meu irmão e isso sem nenhum tipo de pré-condicionamento. Também diria que deveríamos abominar o individualismo em nossa vivência fraternal, reduzir consideravelmente o formalismo em nossas reuniões de adoração cristã e sermos buscadores de uma imitação tal de Jesus Cristo que a religiosidade ficasse definitivamente fora de nosso estilo cristão de viver.

O que escrevi é uma reflexão sobre as palavras do apóstolo Pedro: "E, finalmente, sede todos de um mesmo sentimento, compassivos, amando os irmãos, entranhavelmente misericordiosos e afáveis" (1Pe 3.8) e também igualmente as palavras de Paulo: "Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de entranhas de misericórdia, de benignidade, humildade, mansidão, longanimidade; Suportando-vos uns aos outros, e perdoando-vos uns aos outros, se alguém tiver queixa contra outro; assim como Cristo vos perdoou, assim fazei vós também. E, sobre tudo isto, revesti-vos de amor, que é o vínculo da perfeição. E a paz de Deus, para a qual também fostes chamados em um corpo, domine em vossos corações; e sede agradecidos" (Cl 3.12-15).

Creio, finalmente, que somos, cada um de nós, os maiores responsáveis pela ausência de um viver pleno de poesia existencial. Em que vejamos em cada momento a mão do Senhor amorosamente cuidando de nós, mesmo que de maneira imperceptível. Quando considero isto, até mesmo a erva inútil que teimosamente cresce entre as plantas comestíveis de minha horta é vista como dádiva divina, como sinal da presença divina, ainda que ele, o capim, não me seja útil como alimento.

Quero de hoje em diante também considerar as possibilidades imensas que existem em viver com autêntica alegria em meu cotidiano. Já não suporto mais a esterilidade do presente século, carente de uma verdadeira alegria que é nossa força no Senhor (Ne 8.10), alegria essa que é oriunda da verdadeira paz que só Jesus pode nos conceder (Jo 16.33).

Cuidarei finalmente para expressar em todo tempo a devida ternura a todos, especialmente aos da família da fé. Confesso que gostaria de ser reconhecido muito mais pela minha expressão de amor ao próximo do que por meus conhecimentos intelectuais. O apóstolo das gentes têm uma palavra bem a propósito: "O conhecimento traz orgulho, mas o amor edifica" (1Co 8.1b). Assim, quero edificar meus relacionamentos no amor e que isso seja extensivo à Noiva de Cristo em sua inteireza.

Que seja assim, até que Ele venha.

Pense nisso.