quinta-feira, 29 de março de 2018

HÁ UM TIPO DE CULTO QUE NÃO SATISFAZ A ALMA


“Porque satisfiz a alma cansada, e toda alma entristecida saciei” – Jr 31.25.


Muitos afirmam diante dos que questionam a mesmice, chatice e previsibilidade de nossos cultos: “O culto é para Deus”. Muito bem. O culto, de fato é para Deus. Reunimos-nos para cultuá-Lo, para adorá-Lo visto ser Ele digno de toda a honra, toda glória e todo louvor que possamos Lhe tributar.

Entretanto isso significa que esse culto, geralmente realizado em um lugar a que aprendemos a chamar de “igreja”, culto esse que é de acordo com nossas peculiares formas denominacionais, tenha de ser caracterizado por uma incontida insatisfação? Esse sentimento é causado pela pouca inspiração para a vida que esses cultos nos trazem. Há cultos que são extremamente maçantes, previsíveis, monótonos, sem vibração. E muitos dizem: “É para Deus”. Pergunto-me se Deus também, assim como nós, não têm gosto ou sentimento. E também indago se Ele não observa a insatisfação causada em alguns de nós por causa de reuniões cansativas, sem vida e sem criatividade. Obviamente que sim. E o texto do profeta Jeremias que está no início da presente reflexão nos afiança que Ele é Aquele, aliás, o Único, que pode satisfazer o cansaço da alma e saciar a alma entristecida. A Nova Versão Transformadora verte a passagem da seguinte maneira: “Pois dei descanso aos exaustos e alegria aos aflitos”.

Isso posto, quero questionar de forma aberta aqueles que dizem que o culto é para Deus e com isso estão querendo dizer que não importa que o culto seja predominantemente musical, com grande quantidade de cânticos e muitos desses de qualidade duvidosa. Não importa também se é gasto parte do tempo do culto com grande quantidade de avisos, muitos deles absolutamente desnecessários visto que, na maioria das vezes, as igrejas possuem multimídia e esses avisos, principalmente os que têm a ver com os trabalhos da congregação durante a semana, podem ser passados no telão. Outros tipos de avisos até podem ser falados pelo dirigente, porém isso precisa ser de forma sábia, sem preencher vários minutos preciosos. Importa também falar sobre a falta de respeito sobre as pessoas que estão na reunião quando aquele que dirige o culto quer que façam algo, por exemplo, quando mandam a toda hora virar para o irmão do lado e falar isso ou aquiloutro, ou repetir jargões “gospel” dentre outras coisas.

Acaso não é isso agravado também pelo fato, de que nem sempre a Palavra de Deus é devidamente pregada, ou lhe é dada a devida prioridade no decorrer do culto, o que causa em muitos cristãos exaustão, insatisfação e tristeza?

Realmente, há um tipo de culto que não satisfaz a alma. Um culto que não prioriza Deus naquilo que deveria ser feito, ou seja, um culto com todas as partes em harmonia. A música usada no louvor a Deus, por exemplo, deveria ser com qualidade, piedade e na medida certa (claro que muitas vezes é assim, mas nem sempre e isso está se tornando a norma em alguns lugares). Em minha denominação é irritante observar em um culto com duas horas de duração, um número enorme de cânticos, tomando o tempo que deveria ser da Palavra de Deus, e isso antes mesmo da pregação oficial. Não estou apregoando o fim da música nos cultos, longe disso, mas sim racionalidade e bom senso. E quero acrescentar que muitos cantores e muitas canções são horríveis, de muito mau-gosto e muitas letras sem consonância bíblica, algumas são mesmo feitas para vender, comerciais e ainda outras são heréticas e há muitos que nem se apercebem disso.

A música deve ocupar uma pequena parte do tempo de culto. Ela não pode tomar o tempo da exposição e ensino das Sagradas Escrituras. A música deve ser de qualidade e com letras embasadas na Bíblia somente.

Em nenhum lugar das Escrituras, para nós cristãos notadamente o Novo Testamento, está determinado por Deus de que o culto deveria ser de um padrão único, absoluto. O Espírito Santo deixou-nos à vontade quanto a isso, as formas e expressões cúlticas não se caracterizam por um “absolutismo” bíblico, mas é preciso que se diga que algumas coisas como a oração, a leitura, meditação, estudo e pregação das Sagradas Escrituras, o cultivo da “koinonia”, a comunhão entre os santos em Cristo, o compartilhamento mútuo dos dons, ou seja, a participação de todos ou quase todos (visto que hoje o que predomina é o culto onde existe uma plateia que assiste passiva a performance de uma “elite” sacerdotal) são coisas que devem permanecer ou ser “redescobertas” pois algo já se têm perdido em nossos dias.

Se nisso que descrevi, ou seja, a oração, a leitura, meditação, estudo e pregação das Sagradas Escrituras, o cultivo da “koinonia”, a comunhão entre os santos em Cristo e o compartilhamento mútuo dos dons, fossem devidamente valorizados e aprofundados, teríamos uma base excelente para termos cultos que fossem verdadeiramente inspiradores, voltaria a alegre expectativa da presença de Deus conosco. Não me levem a mal os que pensam diversamente, mas a tradição, o formalismo e o legalismo de muitos têm contribuído para esse estado de coisas, muitos acham que inovar, usar a criatividade é algo indesejável ou mau em si, pois imaginam que não se deve mexer naquilo que foi consagrado pelo tempo.

Ora, meus irmãos, o que foi relevante em épocas passadas necessariamente poderá não ser hoje. É interessante como muitos não refletem, procurando entender o que a Bíblia diz acerca da Pessoa de Deus, não estudam Seus atributos para discernir que somente Ele é Eterno, Perfeito e Imutável (Is 57.15; Ml 3.6; Hb 13.8) e que o homem em tudo disso é oposto a Ele. O homem é, por natureza, finito, falho e mutável em si e em tudo o que faz. A Bíblia categoricamente fala que a existência humana é como a erva do campo (Is 40.6; 1Pe 1.24). Se isso é assim concernente ao homem, tudo que é produto da ação humana, tudo que é próprio de sua cultura, imperfeito como é, é passível de questionamento e mudança conforme o caso.

Podemos adorar a Deus, cultuá-Lo de maneira agradável e nisso também estará a ministração de Cristo, por meio do Espírito Santo, para aliviar o cansaço de nossas almas. Jesus mesmo disse: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei” (Mt 11.28). E ainda nos versos 29 e 30 Cristo confirma que nEle encontraríamos descanso para nossas almas e que Ele nos disponibiliza Seu jugo, mas este é suave e leve. Bem diferente dos jugos humanos que cansam, são enfadonhos, entristecem, aborrecem, dão fastio. E isso acontece de fato em muitos daqueles momentos que vamos nos reunir para adorá-Lo.

Penso que jamais foi a intenção de Deus que o culto a Ele fosse algo chato, sem graça, enfadonho o qual muitos deveriam fazer por mera obrigação e não como algo prazeroso em si. Creio que o Senhor deseja que alegremente celebremos nossa salvação sem o fardo da mera religiosidade humana.

Que possam cessar a exaustão e falta de alegria em alguns de nossos cultos e isso pelos motivos que abreviadamente discorremos. É verdade que conta em primeiro lugar a condição do coração do adorador, mas também devemos ser sábios, inteligentes em nosso louvor e adoração como escreveu o salmista: “Cantai louvores a Deus, cantai louvores; cantai louvores ao nosso Rei, cantai louvores. Pois Deus é o Rei de toda terra, cantai louvores com inteligência” (Sl 47.6,7).

Pense nisso

segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

SEJAMOS CRISTÃOS CONSOLADORES!

UM DOS MALES da comunhão cristã é a ausência de cristãos "consoladores". Os males da vida por vezes empurram-nos para a vala comum da tristeza, da desilusão, da falta de perspectiva, da sensação de abandono e solidão e, por vezes, para a caverna profunda da depressão.

É QUANDO OLHAMOS em derredor e não conseguimos encontrar interlocutores fiéis que nos ouçam, usem de empatia e, pela graça de Deus sejam consoladores inspirados e bálsamo para a ferida do aflito.

ALIÁS, A FERIDA DA ALMA é, por vezes, extremamente dolorida, Sua dor nem sempre é minorada rapidamente, por vezes perpetua-se por longo tempo conforme o problema em questão e a estrutura emocional e espiritual do afligido.

POR ISSO É TÃO IMPORTANTE e fundamental no seio do Corpo de Cristo homens e mulheres que fielmente exerçam esse ministério. Que sejam discretos, sensíveis à dor do próximo, leais, benignos, longânimos, amorosos e tenham em grau elevado sua mente cativa à mente de Cristo. Ou, por que não dizer, que tenham mesmo em plenitude a mente de Cristo (1Co 2.16).

NÃO É DESEJÁVEL que pessoas sem a sensibilidade trabalhada pelo Espírito Santo queiram atuar como consoladores ou mesmo conselheiros. Urge que saibam perceber, pelo Espírito de Deus, a dor do outro, o que lhe aflige, qual a razão de sua tristeza ou morbidez ou mesmo ansiedade. E pelo mesmo Santo Espírito poderão e deverão agir em prol do irmão angustiado para ministrar-lhe conforme a graça de Deus.

CONVÉM NOTAR que é muito lamentável quando, no seio de uma família cristã, por exemplo, haja carência desses cristãos consoladores, quando um dos cônjuges não se sensibiliza pela fraqueza ou dor do outro. Se um ficar amuado, isolado, cabisbaixo, triste e o outro não sabe abordar carinhosamente para oferecer ajuda. Eu disse entre cônjuges, mas bem pode ocorrer entre pais e filhos e vice-versa (considerando serem os filhos adultos).

TANTO NA COMUNHÃO dos cristãos, como Igreja de Cristo como no seio de uma família cristã, os cristãos consoladores deveriam ser abundantes e atuantes. Talvez a ausência desse tipo de cristão esteja no individualismo tão característico de nosso tempo. Cada um cuida de sua própria vida (e é bom que assim o faça) mas às vezes esse cuidado é tão absoluto, tão egoísta que não se criam condições adequadas na mente e coração do cristão individualista ao extremo para que ele cumpra esse ministério tão necessário nesse tempo tão conturbado em que vivemos.

ENQUANTO ESCREVO essas linhas, estou eu mesmo triste e atribulado por algumas situações em minha vida. Até agora não encontrei alguém para conversar. Para o necessário desabafo, exposição dos problemas, esvaziamento do cálice existencial. Resolvi escrever esse texto como uma tentativa de auto-consolação. Claro, não vou aqui declinar o que se passa. Mas escrevo refletindo o momento, analisando a situação e isso serve para minorar de certa maneira a ansiedade e tristeza interiores.

TAMBÉM É BOM que se frise de que há certas situações em que deveremos administrá-las sozinhos, sem o concurso de consoladores humanos, mesmo que eles estejam por perto, disponíveis. Há situações que são somente entre o cristão e o seu Senhor. Jesus mesmo vivenciou isso na agonia do jardim do Getsêmani, mesmo estando por perto seus amigos. No momento de sua mais intensa agonia era Ele somente e o Pai (Mt 26.36-46; Mc 14.32-42; Lc 22.39-46).

MAS O FOCO dessa breve reflexão está nos consoladores humanos. Eu desejo ser um deles. É muito ruim não ter alguém em quem confiar, a quem possamos recorrer e abrir o coração. Mesmo que ele nada diga naquele instante. Mas sua presença amorosa e amigável é por demais preciosa para que seja dispensável. Todos poderemos, na unção do Espírito Santo, ser alívio e consolo para o cansado, entristecido, atribulado, amargurado, decepcionado, estressado, ansioso, enlutado, enfim. Todavia, é preciso que tenhamos cuidado para que não sejamos como Elifaz,  Bildade e Zofar, os amigos de Jó que, ao saberem de sua situação, vieram consolá-lo (Jó 2.11), entretanto, Jó teve a infelicidade de constatar que eles eram "consoladores molestos" (Jó 16.2 - ARC) ou "péssimos consoladores" (NVT) ou então "consoladores importunos" (Bíblia de Jerusalém).   

O ESPÍRITO SANTO é o consolador por excelência (Jo 14.16,26;16.7). E também é mestre, ensinador, professor (Jo 14.26;16.13). Que possamos pois aprender com Ele, em Sua bendita escola, a nos tornarmos também, à Sua semelhança, consoladores fiéis de nossos irmãos aflitos. Isso glorificará ainda mais a Pessoa de Cristo. E glorificar a Cristo é o ministério do Espírito Santo, o bendito Consolador (Jo 16.14).

MEU AMADO, minha amada, pense nisso!