segunda-feira, 26 de abril de 2010

É verdade que os cristãos são sempre solidários?

Pensando nas últimas notícias de catástrofes naturais devido aos desvarios do clima, lembrei de que nem sempre fica evidente o amor cristão para com o próximo. Porque falo isto? Muitas vezes na própria igreja onde congrega, o crente não encontra o conforto e o alívio de suas necessidades quando o infortúnio bate em sua porta. E nem sempre será por alterações climáticas que possam afetar seu cotidiano, mas bem pode ser por estar desempregado. Ou, pode ser que aquele irmão trabalhe, todavia, possui um baixo salário, que não supre adequadamente suas necessidades diárias. Onde fica então o interesse da comunidade cristã por seus necessitados?

Encontram-se em todas as igrejas, pessoas necessitadas. Sim, creio que cada congregação dos santos possui a sua cota de irmãos que passam por situações de carências no que tange ao comer e ao vestir e calçar. Também incluem-se nesta lista, energia elétrica, água e gás. Saúde, acesso ao transporte público não podem ser esquecidos. Não posso aceitar passivamente a realidade de que também nas igrejas existem irmãos mais abastados, mais “abençoados”, que até são dizimistas e ofertantes, mas que não vão além, não caminham a segunda milha no tocante a ajudar de forma mais consistente o verdadeiramente necessitado.

Às vezes, acontece nas igrejas uma condenável inversão. Faz-se apelo para ajudar alguém que esteja longe, seja ele quem for, e esquece-se ou ignora-se aquele que está ao lado. É porque ajudar alguém de fora ou de longe, parece que dá mais “créditos” a quem assim o faz, seja a Igreja como um todo ou o cristão individualmente. O irmão está ao nosso lado no culto, cumprimentamos e até apertamos sua mão e o abraçamos, mas, muitas vezes, não desejamos saber sinceramente, do fundo do coração, como ele está e se está com alguma necessidade a ser suprida de imediato (Rm 12.13). Gostei da maneira como David Stern verteu esta passagem em o Novo Testamento Judaico (Editora Vida): Partilhem o que têm com o povo de Deus e sejam hospitaleiros.”

Tanto os de fora de nossa comunidade, os que estão longe, como os domésticos, os da casa, são objeto de nossa denodada atenção. Incorreremos em pecado diante do Senhor, principalmente quando sabemos antecipadamente quem é aquele irmão que está ao nosso lado, ou com quem encontramos nos corredores da congregação, sua vida, seu trabalho (se estiver empregado), seu padrão de vida, não é mesmo verdade que é possível fazer um retrato de alguém apenas observando-a sem nada falar? Deixemos de hipocrisia: o que há muitas vezes entre irmãos em Cristo, é a má vontade e o desinteresse sobre as necessidades do outro.

O apóstolo Tiago escreveu assim: Meus irmãos, que aproveita se alguém disser que tem fé, e não tiver as obras? Porventura a fé pode salvá-lo? E, se o irmão ou a irmã estiverem nus, e tiverem falta de mantimento quotidiano, e algum de vós lhes disser: Ide em paz, aquentai-vos e fartai-vos; e não lhes derdes as coisas necessárias para o corpo, que proveito virá daí? Assim também a fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma” (Tg 2.14-17). Sem generalizações, evidentemente, desejo aqui indagar: Não é assim que as coisas se sucedem muitas vezes entre nós? Afirmamos com toda a nossa empáfia acerca de nossa profissão de fé em Cristo, mas não traduzimos esta fé em obras de amor ao próximo – bem próximo, diga-se de passagem. O que Tiago afirma dispensa maiores comentários, suas palavras falam por si mesmas, de uma forma ou de outra, você e eu poderemos estar enquadrados nesta palavra.

Um outro aspecto ainda mais condenável que ocorre em muitas congregações ditas cristãs, está relacionado a preferências pessoais e amizades mais chegadas. Isto impede ainda mais o livre fluir do amor entre os membros do Corpo de Cristo. Tiago também tem uma palavra contra isto: Meus irmãos, não tenhais a fé de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor da glória, em acepção de pessoas”; “Mas se fazeis acepção de pessoas, cometeis pecado, e sois redarguidos pela lei como transgressores.” (Tg 2.1,9). No contexto destes versículos, o autor fala sobre fazer distinção entre o rico e o pobre. Para o rico, toda a honra e solicitude. Para o pobre, sempre o lugar secundário e menos importante. Isto acontece infelizmente, em quase todo ajuntamento de cristãos.

Urge que sejamos mais praticantes do amor de Nosso Senhor Jesus Cristo. Ele disse que se amarmos uns aos outros, todos reconheceriam que de fato, somos Seus discípulos (Jo 13.35). Neste capítulo, a grandiosa demonstração de humildade de Nosso Senhor, traduzida na lavagem dos pés, serviço este que cabia ao mais humilde servo da casa, leva-nos a fazer da mesma forma, ou seja, verificando com acuracidade a necessidade de nosso irmão. Parando de cumprimentá-lo superficialmente, perguntando, E aí meu irmão, tudo bem contigo?”, mas todos nós sabemos que, em grande maioria dos casos, a pergunta é, de fato, superficial. Temos medo que o irmão abra o coração, passando a narrar suas vicissitudes e problemas. Principalmente em dias de forte apelo da famigerada Teologia da Prosperidade. Neste caso, o crente não pode ser pobre, não pode estar doente, não pode estar infeliz, é um Cristianismo “contos de fadas”, belo e encantado.

Ao ler a seguinte passagem: Quem, pois, tiver bens do mundo, e, vendo o seu irmão necessitado, lhe cerrar as suas entranhas, como estará nele o amor de Deus?” (1 Jo 3.17), fico a pensar que muitas vezes procuramos não “ver”, ou seja, indagar as condições de vida de nosso irmão, procurando de alguma forma o seu bem-estar no que estiver em dificuldade. Propositadamente ignoramos, não fazendo as perguntas certas que deveriam ser feitas visando alcançar o âmago da necessidade alheia para ajudá-la.

“Meus filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas por obra e em verdade” (1 Jo 3.18). Se já procedemos desta maneira, estamos glorificando ao Nosso Senhor, mostrando a realidade de nossa fé e que de fato, procedemos como súditos do Reino de Deus. Se não fazemos assim ainda, conclamo a todos (incluindo a mim mesmo): Pensem nisto!

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