“Porque satisfiz a alma cansada, e toda alma entristecida saciei” – Jr
31.25.
Muitos afirmam diante dos
que questionam a mesmice, chatice e previsibilidade de nossos cultos: “O culto
é para Deus”. Muito bem. O culto, de fato é para Deus. Reunimos-nos para
cultuá-Lo, para adorá-Lo visto ser Ele digno de toda a honra, toda glória e
todo louvor que possamos Lhe tributar.
Entretanto isso significa
que esse culto, geralmente realizado em um lugar a que aprendemos a chamar de “igreja”,
culto esse que é de acordo com nossas peculiares formas denominacionais, tenha
de ser caracterizado por uma incontida insatisfação? Esse sentimento é causado
pela pouca inspiração para a vida que esses cultos nos trazem. Há cultos que
são extremamente maçantes, previsíveis, monótonos, sem vibração. E muitos
dizem: “É para Deus”. Pergunto-me se Deus também, assim como nós, não têm gosto
ou sentimento. E também indago se Ele não observa a insatisfação causada em
alguns de nós por causa de reuniões cansativas, sem vida e sem criatividade. Obviamente
que sim. E o texto do profeta Jeremias que está no início da presente reflexão
nos afiança que Ele é Aquele, aliás, o Único, que pode satisfazer o cansaço da
alma e saciar a alma entristecida. A Nova Versão Transformadora verte a
passagem da seguinte maneira: “Pois dei descanso aos exaustos e alegria aos aflitos”.
Isso posto, quero questionar
de forma aberta aqueles que dizem que o culto é para Deus e com isso estão
querendo dizer que não importa que o culto seja predominantemente musical, com
grande quantidade de cânticos e muitos desses de qualidade duvidosa. Não
importa também se é gasto parte do tempo do culto com grande quantidade de avisos,
muitos deles absolutamente desnecessários visto que, na maioria das vezes, as
igrejas possuem multimídia e esses avisos, principalmente os que têm a ver com os
trabalhos da congregação durante a semana, podem ser passados no telão. Outros
tipos de avisos até podem ser falados pelo dirigente, porém isso precisa ser de
forma sábia, sem preencher vários minutos preciosos. Importa também falar sobre
a falta de respeito sobre as pessoas que estão na reunião quando aquele que
dirige o culto quer que façam algo, por exemplo, quando mandam a toda hora
virar para o irmão do lado e falar isso ou aquiloutro, ou repetir jargões “gospel”
dentre outras coisas.
Acaso não é isso agravado também
pelo fato, de que nem sempre a Palavra de Deus é devidamente pregada, ou lhe é
dada a devida prioridade no decorrer do culto, o que causa em muitos cristãos exaustão,
insatisfação e tristeza?
Realmente, há um tipo de
culto que não satisfaz a alma. Um culto que não prioriza Deus naquilo que
deveria ser feito, ou seja, um culto com todas as partes em harmonia. A música
usada no louvor a Deus, por exemplo, deveria ser com qualidade, piedade e na
medida certa (claro que muitas vezes é assim, mas nem sempre e isso está se
tornando a norma em alguns lugares). Em minha denominação é irritante observar
em um culto com duas horas de duração, um número enorme de cânticos, tomando o
tempo que deveria ser da Palavra de Deus, e isso antes mesmo da pregação
oficial. Não estou apregoando o fim da música nos cultos, longe disso, mas sim
racionalidade e bom senso. E quero acrescentar que muitos cantores e muitas
canções são horríveis, de muito mau-gosto e muitas letras sem consonância
bíblica, algumas são mesmo feitas para vender, comerciais e ainda outras são
heréticas e há muitos que nem se apercebem disso.
A música deve ocupar uma
pequena parte do tempo de culto. Ela não pode tomar o tempo da exposição e
ensino das Sagradas Escrituras. A música deve ser de qualidade e com letras embasadas
na Bíblia somente.
Em nenhum lugar das
Escrituras, para nós cristãos notadamente o Novo Testamento, está determinado
por Deus de que o culto deveria ser de um padrão único, absoluto. O Espírito
Santo deixou-nos à vontade quanto a isso, as formas e expressões cúlticas não
se caracterizam por um “absolutismo” bíblico, mas é preciso que se diga que algumas
coisas como a oração, a leitura, meditação, estudo e pregação das Sagradas
Escrituras, o cultivo da “koinonia”, a comunhão entre os santos em Cristo, o
compartilhamento mútuo dos dons, ou seja, a participação de todos ou quase
todos (visto que hoje o que predomina é o culto onde existe uma plateia que
assiste passiva a performance de uma “elite” sacerdotal) são coisas que devem
permanecer ou ser “redescobertas” pois algo já se têm perdido em nossos dias.
Se nisso que descrevi, ou
seja, a oração, a leitura, meditação, estudo e pregação das Sagradas
Escrituras, o cultivo da “koinonia”, a comunhão entre os santos em Cristo e o
compartilhamento mútuo dos dons, fossem devidamente valorizados e aprofundados,
teríamos uma base excelente para termos cultos que fossem verdadeiramente inspiradores,
voltaria a alegre expectativa da presença de Deus conosco. Não me levem a mal
os que pensam diversamente, mas a tradição, o formalismo e o legalismo de
muitos têm contribuído para esse estado de coisas, muitos acham que inovar,
usar a criatividade é algo indesejável ou mau em si, pois imaginam que não se
deve mexer naquilo que foi consagrado pelo tempo.
Ora, meus irmãos, o que foi
relevante em épocas passadas necessariamente poderá não ser hoje. É
interessante como muitos não refletem, procurando entender o que a Bíblia diz
acerca da Pessoa de Deus, não estudam Seus atributos para discernir que somente
Ele é Eterno, Perfeito e Imutável (Is 57.15; Ml 3.6; Hb 13.8) e que o homem em
tudo disso é oposto a Ele. O homem é, por natureza, finito, falho e mutável em
si e em tudo o que faz. A Bíblia categoricamente fala que a existência humana é
como a erva do campo (Is 40.6; 1Pe 1.24). Se isso é assim concernente ao homem,
tudo que é produto da ação humana, tudo que é próprio de sua cultura, imperfeito
como é, é passível de questionamento e mudança conforme o caso.
Podemos adorar a Deus,
cultuá-Lo de maneira agradável e nisso também estará a ministração de Cristo,
por meio do Espírito Santo, para aliviar o cansaço de nossas almas. Jesus mesmo
disse: “Vinde a
mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei”
(Mt 11.28). E ainda nos versos 29 e 30 Cristo confirma que nEle encontraríamos
descanso para nossas almas e que Ele nos disponibiliza Seu jugo, mas este é
suave e leve. Bem diferente dos jugos humanos que cansam, são enfadonhos,
entristecem, aborrecem, dão fastio. E isso acontece de fato em muitos daqueles
momentos que vamos nos reunir para adorá-Lo.
Penso que jamais foi a
intenção de Deus que o culto a Ele fosse algo chato, sem graça, enfadonho o qual
muitos deveriam fazer por mera obrigação e não como algo prazeroso em si. Creio que o Senhor deseja
que alegremente celebremos nossa salvação sem o fardo da mera religiosidade
humana.
Que possam cessar a exaustão
e falta de alegria em alguns de nossos cultos e isso pelos motivos que abreviadamente
discorremos. É verdade que conta em primeiro lugar a condição do coração do
adorador, mas também devemos ser sábios, inteligentes em nosso louvor e
adoração como escreveu o salmista: “Cantai louvores a Deus, cantai louvores; cantai louvores ao
nosso Rei, cantai louvores. Pois Deus é o Rei de toda terra, cantai louvores
com inteligência” (Sl 47.6,7).
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