sábado, 1 de maio de 2010

Deus, o homem e o trabalho

Hoje comemora-se o Dia do Trabalho no Brasil e também em outros países. Quer esteja trabalhando hoje, ou refestelando-se no sofá de sua sala, aproveitando o feriado, considere hoje fazer uma reflexão sobre o trabalho e suas implicações para a vida do ser humano.

O trabalho permite ao homem transformar a natureza, permite a maior unidade entre os homens e também, o trabalho permite a transformação do próprio homem. Após a queda no pecado, ao homem Deus disse: "No suor do teu rosto comerás teu pão, até que tornes à terra; porque dela foste tomado; porquanto és pó e em pó te tornarás" (Gn 3.19). De forma alguma está sendo determinada ao homem aqui uma maldição. Deus, em grande sabedoria, instruiu a Adão de que ele deveria trabalhar para garantir sua sustentabilidade.

Ao criar o homem conforme Sua própria imagem e semelhança (1.26), incluiu-se aí também o fato de que Deus estava trabalhando na semana da criação e de que finalmente descansou no sétimo dia (2.1, 2). Desta maneira, o homem, assim como seu Criador, em total semelhança a Ele, deve exercer o labor, porque isto tem parte fundamental em sua constituição, algo muito próprio de sua condição humana. Note o que diz o texto bíblico: "E tomou o Senhor Deus o homem, e o pôs no jardim do Éden para o lavrar e guardar" (Gn 2.15). Aqui está a condição sine qua non da raça humana, o trabalho. Nos versos 19 e 20 de Gênesis 2, Deus ainda atribui ao homem que criara, outra tarefa. Portanto, é de se constatar desde o princípio, e lembrando a todos de que isto foi ainda antes de sua queda, vocacionado foi o homem para o trabalho.

Muitos há, como dito anteriormente, que consideram o trabalho como uma maldição por causa de sua queda no pecado. Provamos que não é isso que diz a Bíblia desde seu princípio. O livro de Provérbios condena em várias passagens a pecado da preguiça (6.6-8; 10.5,26; 12.27; 18.4,9; 19.24; 20.4; 21.25; 22.13; 24.33,34 ). Preguiçoso é o homem que se recusa terminantemente a trabalhar, e que vive às custas de terceiros, ou procurará roubar para manter-se, trazendo assim sobre si, a desonra, a pobreza, a ignomínia e negando sua vocação posto que é mandato divino para todos os seres humanos. O desenvolvimento e progresso pessoal e de uma sociedade está calcado no trabalho. O homem desenvolve habilidades e imaginação, há um constante aprendizado das forças naturais visando o aproveitamento em seu próprio bem estar e de seus semelhantes. Há aqui o desenvolvimento de disciplina e assim não permanecerá o homem o mesmo, porque o trabalho tem a propriedade de alterar a visão que possui do mundo e de si mesmo.

Desde o princípio da história humana portanto, a visão do trabalho esteve ligada a uma visão negativa. A própria etimologia da palavra trabalho vem do vocábulo latino tripaliare, do substantivo tripalium, que era um aparelho de tortura formado por três paus, que eram atados aos condenados e servia igualmente para manter presos os animais indóceis. Na Grécia antiga, todo o trabalho manual, por ser feito por escravos, era desconsiderado. Para eles, a atividade teórica, reflexiva, possuía maior dignidade, posto que representava a essência de todo ser racional. Por isso Platão achava que a finalidade de todo homem livre deveria ser a "contemplação das idéias". Roma, que era uma sociedade escravagista assim como os gregos, também tinha a tendência a desvalorizar o trabalho manual, muito embora fossem um povo guerreiro e conquistador. Tomás de Aquino, na Idade Média, tentou reabilitar a visão negativa do trabalho, ensinando que todos os trabalhos eram equivalentes, mas sua própria filosofia, inteiramente baseada na filosofia grega, tendia a valorizar mais a atividade reflexiva. Toda esta visão começa a mudar na Idade Moderna, por causa da ascenção da burguesia.

Com o advento da sociedade industrial, o sentido da palavra trabalho ganha uma conotação mais positiva porque passa a representar, progresso, riqueza e ascenção social. Todavia, com o maior enriquecimento dos proprietários, ocorre a alienação dos trabalhadores, que ficam cada vez mais distantes do produto final de seu esforço. Volta o trabalho à sua antiga conotação negativa por causa da chamada "robotização do trabalhador", posto que torna-se um autômato desempenhando atividades cansativas e monótonas como bem retratado por Charles Chaplin no filme Tempos Modernos.

Para o crente, basta que observe com atenção tudo o que a Palavra de Deus diz sobre o trabalho. Já falamos sobre a vocação do homem para trabalhar, e isto ainda antes da Queda. No AT, além de considerar o trabalho parte integral da vida, o judeu (inclusive havia um ditado de que "aquele que não ensina ao seu filho um ofício, o ensina a roubar"), baseado integralmente na Torah, considerava que todos sem exceção deveriam trabalhar e que todo trabalho árduo era satisfatório. Também considerava que todas as profissões legítimas deveriam ser honradas. No NT, seguindo a ética trabalhista do AT, vemos o reflexo desta primorosa visão trabalhista nos ensinos transmitidos aos crentes da igreja de Tessalônica pelo apóstolo Paulo: "Porque,quando ainda estávamos convosco, vos mandamos isto, que, se alguém não quiser trabalhar, não coma também" (2 Ts .310). Isto ele exortara por causa de alguns irmãos que não queriam trabalhar. E Paulo mesmo, conforme sua ética baseada na Torah, afirma que não foi pesado a ninguém, porque procurou trabalhar arduamente noite e dia (v. 8) e assim não se portou desordenadamente entre os tessalonicenses, procurando lhes dar exemplo.

Além disso, um cristão deverá, dentro da ética do NT para o trabalho, prover as necessidades físicas de sua família (1 Tm 5.8), ser um empregado obediente e submisso (Cl 3.22; Tt 2.9,10) e tornar excelente o seu padrão de trabalho (1 Ts 4.11,12). Em tudo isto estará dando testemunho fiel de como o trabalho fará com que, além de suprir suas necessidades e as de sua família, consiga obter boa reputação e, por conseguinte, glorificará a Deus.

"E Jesus lhes respondeu: Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também" (Jo 5.17). Não é preciso discorrer amplamente sobre o fato glorioso do trabalho e seu exercício para o avanço do Reino de Deus. Reveste-se de maior nobreza e de beleza considerar o trabalho como algo fundamental não só para o reino dos homens mas para o reino que jamais passará, o Reino de Deus.

Sendo assim, convido você a neste Dia do Trabalhador pensar sobre estas verdades e, como servo de Cristo, procurar cada vez mais glorificar ao Senhor com seu trabalho, seja ele qual for empenhado-se firmemente e igualmente na obra de Deus, de acordo com o dom que Ele lhe concedeu (1 Pe 4.10).

"Portanto, meus amados irmãos, sede firmes e constantes, sempre abundantes na obra do Senhor,sabendo que o vosso trabalho não é vão no Senhor"

1 Co 15.58

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