quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

O dilema dos EUA: Armas, tragédias e liberdade

Uma das grandes tragédias que ora se abatem sobre os Estados Unidos e seu povo tem a ver com a polêmica questão de armamentos nas mãos de civis. É um fato histórico: A Segunda Emenda constitucional , de 15 de dezembro de 1791 concedeu o direito a qualquer cidadão estadunidense de possuir suas próprias armas em casa, assim foi redigido o texto: "Sendo necessária uma milícia bem ordenada à segurança de um Estado livre, o direito do povo de possuir e portar armas não deve ser infringido."

Necessária se faz uma discussão em torno do tema. É um grande equívoco essa emenda, que completou no mês passado, 221 anos. E é evidente que ela ficou obsoleta porque estamos em tempos muito diferentes desde quando foi promulgada. É grande o segmento na sociedade norte-americana a favor da manutenção dessa lei, a ala conservadora, que é composta de muitos assim ditos "cristãos". Existe uma organização não -governamental, a NRA (National Rifle Association - Associação Nacional do Rifle) que defende junto ao governo que a Segunda Emenda seja mantida. Wayne La Pierre, vice-presidente e gerente-geral do órgão chegou a dizer esta pérola: "A única coisa que detém uma pessoa má com uma pistola é uma pessoa boa com uma pistola", demonstrando assim sem pudor algum a mentalidade agressiva dos neoconservadores em uma sociedade que dá sinais de uma decadência evidente em muitos sentidos: intelectual, cultural, moral, político, econômico e principalmente, espiritual.

O presidente Barack Obama após o último massacre em Connecticut em 14 de dezembro onde 20 crianças e seis adultos foram mortos por Adam Lanza de 20 anos, depois de matar a própria mãe em casa e terminar cometendo suicídio,  disse: "Temos que observar mais atentamente uma cultura que glorifica as armas e a violência". Palavras um tanto vagas do presidente da nação militarmente mais poderosa do mundo, que infelizmente tem infringido leis internacionais em sua "guerra ao terror" e agora precisa acudir um problema de enormes proporções em seu próprio país, não só pela sequência de mortes nos últimos anos, em ataques em escolas, shopping centers, empresas, templos, cinemas, os serial killers americanos são muito abrangentes em seus nefandos ataques.

Os Estados Unidos vivem desde o século 19 sob uma cultura de violência imposta de cima para baixo pois apoiam o uso excessivo de força para resolução de arengas tanto dentro como fora de suas fronteiras. O governo desde 2002 durante a presidência de George Bush (filho), invade casas, controla o acesso de qualquer pessoa à internet, executa escutas telefônicas, pratica espionagem, tortura e interroga qualquer um suspeito de terrorismo e isso sem lhe dar direito à ampla defesa. É enfim um estado policial na mais plena acepção do termo. Logo os EUA, considerados a pátria da liberdade e dos direitos civis.

Infelizmente não dá para imaginar outra coisa da nação americana hoje do que esta: é um país que, por meio de seus governantes e sua política externa agressiva (e agora internamente também), tem se apresentado ao mundo como intolerante, truculento com seus cidadãos e que tem uma economia baseada na indústria armamentista. Os problemas sociais entre os norte-americanos são potencializados pelo fato de serem a sociedade que tornou-se a maior consumidora de drogas do mundo. É um negócio trilionário e que gera muita violência (veja o México, vizinho dos americanos, como está sob o domínio dos cartéis do narcotráfico). Suspeita-se que a CIA está envolvida diretamente, em parceria com o governo do Afeganistão, no tráfico de ópio (de onde se produz a heroína) a partir deste país (invadido por tropas dos EUA). 

Um Estado repressor, que invade outros países de forma unilateral e que não aceita ser interpelado pela ONU. Que usa de violência da maneira mais franca possível quando estão em jogo seus interesses. Um país belicoso fora e dentro de suas fronteiras contra seus próprios cidadãos. Que tem além de tudo, a maior população carcerária do mundo, correspondente a 1/4 da população carcerária mundial, a maioria desses detentos são negros. Este fato só reforça o racismo, outro problema na sociedade americana que, apesar dos progressos nesta questão nas últimas décadas, ainda é algo entranhado no seio da sociedade. 

Tudo isto e muito mais formam um caldo amargo e intragável tornando a vida das pessoas sem esperança e com medo de tudo e de todos. Nunca o cidadão americano terá a certeza de que pode fazer sua ligação telefônica, entrar e sair de sua casa, conduzir sua vida e seus negócios com toda tranquilidade porque os seus governantes tem agora o poder de fazer incursões em sua vida privada quando e onde desejar. E também, nunca se sabe quando e onde estará o próximo psicopata que descarregará suas armas contra quem estiver em sua frente, visto que, pelo andar da carruagem, será muito difícil, quase impossível, derrubar uma lei que está mesmo amalgamada com a forma de vida que os americanos tem e que se reforça por causa da cultura de violência do qual falamos e que o governo é o grande responsável e mentor. Somente para se compreender a gravidade desta situação, deixo aqui um link para que vejam quantos ataques já foram fomentados desde 1998, acesse aqui http://www1.folha.uol.com.br/mundo/1201432-relembre-outros-ataques-a-tiros-nos-eua.shtml e isso é somente um resumo. 

O que resta, e falamos assim porque conhecemos a Cristo, é exatamente aquilo que os norte americanos tem ainda na essência de sua vida enquanto nação, enquanto povo: o sentimento religioso, mesmo que um tanto quanto decadente, mesmo que um tanto quanto domesticado e institucionalizado ou ainda, secularizado. Ainda há verdadeiros homens e mulheres de Deus na América que entendem que a solução para os graves problemas da nação está no Alto, vem d'Aquele que "não dorme e nem tosqueneja" (Sl 121.4). 

Nosso Deus é soberano sobre toda a terra. Nunca é demais lembrar de que Seus eternos propósitos se cumprirão, não importa governo, ideologia, conflitos, nada. Tenho a mais absoluta convicção que em meio a toda esta miséria de pessoas sendo mortas nestes ataques de psicopatas armados, existe um propósito maior. Foi divulgado amplamente nos noticiários que muitas pessoas após o atentado de Connecticut em 14 de dezembro, acorreram para as igrejas procurando conforto espiritual, foi uma oportunidade e tanto para que pastores, líderes e cristãos em geral ministrassem sobre essas pessoas e lhes apregoassem a fé em Jesus Cristo como única alternativa para a vida humana, como o Único que dispõe para todos de VIDA e esta em abundância (Jo 10.10).

Àqueles que se dizem cristãos e que apoiam a Segunda Emenda que mantém a liberdade de qualquer pessoa poder comprar uma arma, deveriam refletir à luz das Escrituras sobre a racionalidade de sua convicção pessoal. Sei que muitos devem mesmo fazer isto e que encontrarão apoio na Bíblia para defender a ideia de que o norte-americano deve se armar, deve ter a liberdade de comprar qualquer tipo de armamento e munição, na quantidade que quiser, considera-se também o próprio princípio de que o governo não deve ter poder de ingerência na vida do cidadão, ou seja, ele compra ou deixa de comprar o que quiser. Mas pessoalmente, defendo sim que haja um meio termo na questão, exatamente por causa dos paranóicos que infestam uma sociedade como a dos Estados Unidos, com vários ex-combatentes de suas últimas guerras, pessoas neuróticas, que podem pegar a qualquer momento em um fuzil e promover um banho de sangue sem o mínimo problema de consciência. Se pessoas como o jovem de 20 anos  de Connecticut  têm a capacidade nefanda de praticar tais atrocidades, o que dizer de um ex-militar treinado exatamente para matar de forma profissional?

Conclamo que todos os cidadãos norte-americanos que temem ao Senhor, que entendem que a violência não se resolve com mais violência, que compreendem e experimentam diariamente em suas vidas o amor do Salvador, que sabem, pelo testemunho do Espírito Santo em seu interior, de que a Palavra de Deus é a verdade pura e cristalina para suas vidas e de todos os que vierem a crer, que esses cristãos possam ser o grande diferencial para o seu país. Que eles deixem todas as diferenças denominacionais e teológicas (repito que estou falando aqui de crentes nascidos de novo, não falo de crentes nominais) e possam unir-se em oração e em ação concreta e objetiva visando mudar a face dos Estados Unidos da América, que já foi considerado o país das oportunidades, além de ser também em passado recente, o país que mais enviava missionários cristãos ao mundo, mas que ultimamente arrefeceu seu ardor missionário, exatamente por causa da agressiva política externa que leva a efeito e que fez com que cidadãos estadunidenses corressem perigo de vida em muitos países devido ao ódio devotado aos Estados Unidos e a tudo o que seja referente ao seu estilo de vida.

É possível reverter a decadência espiritual. Esta, é a base de todo o triste estado que se abate sobre a nação. Pessoalmente, tenho apreço pelo povo americano, gosto de algumas coisas boas da cultura americana. Admiro a força de vontade e vocação empreendedora que possuem, sem exageros. Repudio entretanto seus governantes belicosos que teimam em manter guerras em países distantes com desperdício de vidas e recursos, quando poderiam ter uma cultura de paz, tanto externamente como internamente. Lamentavelmente, estamos neste instante em uma situação sombria, mas sirvo a um Deus, que é o Deus de toda esperança. Gosto do que disse o apóstolo Paulo: "Ora, o Deus de esperança vos encha de todo o gozo e paz em crença, para que abundeis em esperança pela virtude do Espírito Santo" (Rm 15.13). Sei que não nos aguarda exatamente um mundo de paz promovido somente pelos homens. Isto é impossível, por causa da natureza pecaminosa do ser humano. Porém, creio em homens regenerados, servos verdadeiros de Jesus Cristo, que podem ser agentes de transformação, que podem ser sal e luz (Mt 5.13-16), assim como José do Egito, assim como Daniel em Babilônia, assim como William Wilberforce, parlamentar cristão no século 18 na Inglaterra que ajudou a extinguir o tráfico negreiro, assim como Abraham Kuyper, pastor, que fez um excelente governo como primeiro-ministro da Holanda (1901-1905) e tantos outros exemplos de cristãos, que você pode estar lembrando agora e que fizeram a diferença, glorificando a Deus, servindo a seu próximo, sendo úteis à sociedade pois esta é a vontade do Senhor para nós.

Paz verdadeira somente quando o Princípe da Paz, nosso Senhor Jesus Cristo, vier pela segunda vez. E Ele breve virá. Até lá, cabe aos nós, seus discípulos, influenciar da melhor forma possível, salgar, iluminar, esta sociedade que jaz no Maligno (1Jo 5.19). Isto devemos fazer. Mesmo que ao custo de nossas próprias vidas. Somos testemunhas de Cristo e a palavra "testemunha" no grego marturion, é de fato donde deriva a palavra "martírio" em nosso idioma, isto deixa claro então que ser testemunha de Cristo em um mundo carregado de maldade, sob o domínio (permitido por Deus, não nos esqueçamos nunca disso) de Satanás, pode ser sinônimo de sofrimento, perseguição e morte. Mas isso deve ser motivo de regozijo para os verdadeiros filhos de Deus, sempre (Mt 5.11,12).

Então, se você leu com atenção, agora mesmo pare e pense sobre tudo isso. Que o Senhor nos abençoe e também ao valoroso povo norte-americano. 













3 comentários:

  1. Acredito irmão Cicero, que não só nos Estados Unidos, mas em todo o mundo homens experimentem realmente o verdadeiro avivamento vindo da parte Deus, ou como vc mesmo disse, homens regenerados, nascidos de novo serão capazes de influenciar positivamente este mundo perverso que vivemos.

    ResponderExcluir
  2. É assim que creio meu amado irmão, muito embora o mundo esteja a cada dia mais e mais perverso, os cristãos verdadeiros tem um mandato de Deus para fazer a diferença. Grande abraço!

    ResponderExcluir
  3. Gracias Noemi, que Dios te bendiga muchisimo !!!!

    ResponderExcluir