O grande pastor norte-americano A.W. Tozer (1897-1963) há muitos anos atrás chamou o culto cristão de "a jóia perdida da igreja". Porque ele disse isso? Simplesmente porque já em seu tempo, algumas igrejas e alguns cristãos já haviam perdido a dimensão correta de como deveria ser o culto ao Senhor. O pragmatismo americano havia também invadido as igrejas cristãs e o efeito disso foi a perda da essência em cultuar ao Senhor estando os cristãos reunidos em um determinado lugar.
Segundo John MacArthur, nos Estados Unidos 350 mil igrejas possuem oitenta bilhões de dólares em prédios dedicados ao culto a Deus. E ele pergunta: "Mas quanto de culto de fato se realiza nesses locais"?
Muitas denominações no Brasil, muitos ministérios e muitos pastores ávidos de projeção de seu nome e de sua igreja, pensam a igreja cristã somente em termos de construção de templos, para que depois então nesses confortáveis prédios, ofereçam um assim chamado "culto" onde a predominância está em uma propagar uma filosofia de ministério que quase nada tem a ver com os pressupostos neotestamentários para a Igreja de Cristo.
É no culto que se refletirá toda a ideologia da denominação ou as ideias bem particulares de seu pastor-presidente muitas vezes. Não se estará cultuando a Deus adequadamente em um lugar onde tudo o que se ouve são elogios ao fundador da denominação (isso deveria ser feito em relação a Cristo, e não elogios, mas sim, verdadeira reverência e adoração). Onde se gasta parte do precioso tempo de uma reunião (normalmente em torno de duas horas) para se falar de tudo, se ouvir de tudo, menos uma mensagem verdadeiramente ungida, descida do alto, diretamente Pai das luzes (Tg 1.17) onde não há mudança nem sombra de variação.
Os pastores não tem de satisfazer as necessidades das pessoas. Esta é a realidade em muitos ministérios. O culto deve obviamente ser direcionado a Deus, deve ser teocêntrico ou cristocêntrico. O que mais está em voga hoje são os cultos antropocêntricos. Isto porque, o homem está sendo o foco primordial do culto e não Deus, muito embora os que ali estão reunidos digam que ali estão para adorar ao Senhor. E essa reunião e essa adoração será que está refletindo verdadeiramente o que Jesus disse no Evangelho de João: "Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão ao Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem. Deus é espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade" (4.23,24) ou quase tudo o que é feito ali satisfaz tão somente a uma filosofia de ministério que parte das necessidades do homem e não da vontade de Deus.
A pregação, ponto alto do culto, consiste tão somente em muitos ministérios, de conceitos de auto-ajuda. Este termo significa "ajudar a si próprio", ou seja, ter atitudes e comportamentos para construir uma personalidade forte e capaz de levar uma vida feliz e próspera independente de fatores externos. Não é algo necessariamente mau ou incorreto ouvir um sermão com essa característica, ajudando o crente a viver melhor sua vida nesse mundo. Porém, o que criticamos é a excessiva ênfase nesse aspecto. O foco central de mensagens desse tipo é a satisfação humana, eles não pregam todo o conselho de Deus (At 20.27).
Assim, constato com tristeza incontida o crescimento no Brasil deste tipo de culto que de bíblico tem muito pouco. Muito mais de Deus poderia ser pregado. Também, todo o culto deveria ser direcionado ao Senhor e não parte dele somente. Muitos vão aos prédios que erradamente são chamados de "igreja" (igreja é gente, pessoas, eu e você) "para buscar uma benção de Deus". Ora, isso não é cultuar ao Senhor verdadeiramente. É estar focado em mim mesmo, é culto antropocêntrico, como dissemos antes.
Você e eu somos abençoados por Deus quando lhe oferecemos um culto racional verdadeiro (Rm 12.1). O fato de estarmos adorando Ele assim e em espírito e em verdade (Jo 4.24) já se constitui por si em algo abençoado para o adorador.
O culto na Bíblia é o serviço prestado a Deus pelo povo escolhido por Ele mesmo. Devemos compreender que cultuar a Deus é relacionar-se com Ele. O culto bíblico é o encontro entre Deus e o ser humano, entre Deus e o Seu povo. Se for constante e intenso o diálogo entre Deus e o ser humano, mas frutífero se tornará o culto. Tudo o que acontece no culto deve levar em consideração a experiência de encontro com Deus.
Infelizmente são inúmeras as igrejas e cristãos que pensam que é preciso transformar o culto num bom espetáculo que atraia e agrade as multidões. Outros pensam que as diversas partes do culto e a disposição de seus elementos numa determinada ordem dependem de um costume estabelecido, ou, então, das preferências do pastor.
Declinarei aqui três pontos fundamentais se como cristãos pretendemos cultuar biblicamente a Deus. 1) O culto bíblico é uma experiência corporativa e não individualista; 2) O culto é serviço a Deus e não encontro casual para o lazer; 3) O culto bíblico traz em si uma íntima ligação entre adoração e vida.
Desnecessário dizer que o culto a Deus está vinculado ao todo de nossa existência. Não devemos identificar a adoração a Deus somente com as reuniões no templo. Se isso acontecer, estaremos desvinculando o culto do viver diário.
Vamos agradar ao Senhor cultuando-o verdadeiramente. Nós e nossas necessidades não são a essência do culto prestado ao Senhor Deus, mas sim a adoração de Sua Augusta Pessoa em toda Sua Realeza e Majestade. Cultuar a Deus deve ser um estilo de vida em todo o tempo.
"Ora, ao Rei dos séculos, imortal, invisível, ao único Deus sábio, seja honra e glória para todo o sempre. Amém" (1Tm 1.17).
Pensemos muito bem no que acabamos de ler e assim ofereçamos culto a Deus como Lhe é devido.