domingo, 18 de setembro de 2011

O Evangelho e os milagres, uma unidade inquestionável


A natureza do Evangelho (sempre escrevo com "e" maiúsculo para identificá-lo com sua singularidade e exclusividade) é de tal forma definida no NT que não podemos de nenhuma maneira tentar uma redefiníção através de elucubrações de caráter meramente humano e portanto falível, sob pena de descaracterizá-lo. E essas tentativas tem ocorrido ao longo de dois mil anos de história cristã.

Notadamente a partir do século 18, com o Iluminismo, que foi um movimento intelectual que elevou a razão humana a um patamar quase divino e que lhe outorgava a capacidade de discernir a verdade sem a participação da revelação divina, começaram a acreditar que se poderia encontrar Deus somente pelo recurso do raciocínio humano. Com isso, as Escrituras começam a perder sua autoridade e tudo o que se refere a milagres, que não pode ser explicado pela mente humana, é desacreditado. Tentam transformar a Bíblia em um livro de lendas.

Sabemos de como o Livro de Deus é pródigo em milagres, praticamente em todas as suas páginas. Em relação ao Evangelho, vemos logo de início a concepção virginal de Jesus Cristo como um dos mais marcantes fatos miraculosos da mensagem cristã.

Os milagres também foram constantes em todo o ministério terreno do Senhor. Onde Ele estava e por onde andava, certamente os milagres estariam presentes. O Evangelho não seria o que é sem os milagres realizados por Jesus no decorrer de seu glorioso ministério.

A ressurreição coroa toda a magnífica jornada do Salvador. Foi um milagre portentoso realizado por Deus. Pessoalmente, creio porém que a salvação dos pecadores, a ação do Espírito Santo para transformar o mais vil e abjeto ser humano em uma nova criatura, santo, regenerado, é o milagre dos milagres. Não há explicação científica plausível para tentar explicar isso. É gloriosa e totalmente inexplicável. Realmente é como disse o apóstolo Paulo: "Porque não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê; primeiro do judeu, e também do grego" (Rm 1.16).

Jesus comissionou Seus discípulos em Mt 10.7,8: "E, indo, pregai, dizendo: É chegado o reino dos céus. Curai os enfermos, limpai os leprosos, ressuscitai os mortos, expulsai os demônios." Ele também disse ao final do Evangelho de Marcos: "E estes sinais seguirão aos que crerem: Em meu nome expulsarão os demônios; falarão novas línguas; pegarão nas serpentes; e , se beberem alguma coisa mortífera, não lhes fará dano algum; e porão as mãos sobre os enfermos e os curarão" (16.17,18). A característica miraculosa da mensagem do Evangelho, de transformar o coração dos pecadores, estava aliada às ações divinas no mundo físico, atuando no nível do ordinário, do comum, com feitos extraordinários, ou seja, os milagres.

O livro de Atos dos apóstolos foi um livro marcado pelos milagres. A partir da descida do Espírito Santo, os feitos miraculosos se sucedem por todas as suas páginas, confirmando a mensagem do Evangelho em toda sua plenitude.

Lamentamos as distorções. Aqueles que, por causa de lamentáveis ênfases de certas igrejas e ministérios, colocam em primeiro lugar os "sinais e maravilhas", como se isso por si só fosse o verdadeiro Evangelho. Milagres, sinais e maravilhas só poderão ser considerados autênticos, ou seja, de procedência verdadeiramente divina, se antes a genuína mensagem da salvação, o glorioso Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo, for efetivamente pregado como os apóstolos fizeram no livro de Atos. Pedro, Filipe, Paulo, Barnabé, todos esses, pregaram a verdadeira mensagem que tem poder de salvar o pecador e como consequência os sinais se faziam presentes.

Quando uma igreja ou ministério coloca os sinais, milagres e maravilhas em primeiro lugar sem a pregação devida do Evangelho, ou uma pregação distorcida, com ênfases humanas ou denominacionais, estará pecando contra Cristo que deixou bem clara a unidade que existe entre a mensagem verdadeira do Evangelho a ser pregada e a consequente manifestação do poder dessa mensagem, quer seja na salvação dos pecadores e na cura de seu corpo físico, ressurreição de mortos, etc.

Por isso sou um crente pentecostal. Daqueles que realmente acreditam que tudo o que aconteceu no livro de Atos dos apóstolos ou os milagres efetuados por Jesus registrados nos quatro evangelhos, podem acontecer hoje. Por acontecer digo, não para exaltação do pregador, da igreja ou ministério, mas para confirmação do poder de Deus que opera por meio do Evangelho. Jesus disse assim: "Na verdade, na verdade vos digo que aquele que crê em mim também fará as obras que eu faço, e as fará maiores do que estas, porque eu vou para meu Pai" (Jo 14.12), ou seja, não podemos aceitar o que dizem os assim chamados cessacionistas que são os que creem que os milagres cessaram de ocorrer após o período apostólico. Nada há no NT que indique isso, eles creem que esses milagres ocorriam para ajudar ao crescimento e divulgação do Evangelho e que depois disso bastaria a igreja contar com as Escrituras completas do Antigo e Novo Testamento, fazer seu trabalho e os milagres não mais seriam necessários.

Creio que todo milagre que possa ser efetuado deve redundar em maior glória para Deus e, como já ressaltado, para autenticar a genuína mensagem evangélica que tenha sido anunciada. Não creio na dimensão espetacular que alguns neopentecostais e até mesmo alguns de nós, pentecostais clássicos, infelizmente atribuem à mensagem cristã e à vida como um todo. Na visão desses, milagres devem ocorrer em todos os momentos, o mundo e o nosso cotidiano são o palco de intervenções divinas contínuas. Ora, se for mesmo assim, o milagre deixa de ser algo extra-ordinário para ser algo meramente ordinário, comum, usual, corriqueiro e aí não é mais milagre, é algo natural, normal. O milagre é sempre de caráter sobre-natural, não se explica, não há parâmetros em nível humano que possam ser usados para que possamos compreender com nossas mentes racionais as intervenções divinas na vida dos homens.

Convém lembrar que Deus opera milagres quando quer e quando bem entender. É o cúmulo do orgulho e da tolice, achar que Ele se sujeitará a algum tipo de manipulação para que possa operar um milagre, qualquer ele que seja. A primeira epístola de Paulo aos Coríntios no capítulo 12 mostra que os dons são distribuídos aos discípulos de Jesus por meio do Espírito Santo. E que há diversidade de dons, de ministérios, e de operações. Paulo deixa clara a plena soberania do Espírito de Deus nesse aspecto: "Mas um só e o mesmo Espírito opera todas estas coisas, repartindo particularmente a cada um como quer" (1Co 12.11). Assim, ninguém poder dizer que é seu o dom de curar. Se alguém fosse proprietário do dom, se fosse realmente seu, sairia curando a seu bel-prazer todas as pessoas a começar por sua parentela, por exemplo. Na verdade os dons de curar (v.9), bem como qualquer outro, são dons agregados, não foram concedidos para se usar conforme a vontade própria de seu portador, mas em submissão ao Senhor.

Paulo mesmo disse que os dons e a vocação de Deus são irrevogáveis, ou seja, dados por Deus sem arrependimento (Rm 10.29). Ele concedeu, está concedido. Todavia, Ele repudia as intenções dos milagreiros, ou operadores de maravilhas que existem aos montes no meio evangélico e que querem fazer do Evangelho um show à parte. Jesus repudiou esse proceder quando recusou a proposta de Satanás na tentação no deserto em operar milagres em seu próprio benefício. Não quis transformar as pedras em pães (Mt 4.3,4; Lc 4.3,4), nem quis lançar-se do pináculo do templo para que os anjos intervissem e Ele não se machucasse, conforme a sugestão do Maligno (Mt 4.6,7; Lc 4.9-12).

Falo do Evangelho, falo de milagres. Prego o Evangelho, os milagres forçosamente estarão presentes. No primeiro concílio da igreja cristã em Atos 15, lemos como a multidão reunida ouvia calada o relato de Paulo e Barnabé de como Deus operou grandes sinais e prodígios por meio deles entre os gentios (v.12).

Graças ao Senhor que isso é assim. Que continua hoje o Senhor a agir da mesma maneira como nos dias primitivos. Alguns alegam que os milagres cessaram e outros argumentam que podem até ocorrer mas não como ocorria nos dias apostólicos ou durante o ministério terreno de Jesus. Discordo totalmente desses pontos de vista. Na verdade, Deus opera e ainda quer operar mais porque, como já discorri, os sinais acompanham a mensagem. Se assim não fosse, o Evangelho seria uma mensagem humanista ou filosófica como tantas que existem no mundo de hoje. Sem nenhum poder para transformar os corações e sem nenhuma possibilidade de intervenção miraculosa para remover as mazelas na vida dos homens causadas pelo mal e pelo pecado.

Creiamos no Evangelho e na inteireza de sua mensagem gloriosa. Satanás opera milagres também, mas de caráter enganoso e com o intuito de arrastar os homens para longe de Deus (Mt 24.24; 2Ts 2.9-12). Quando os milagres são verdadeiramente divinos, acontece com os milagres do diabo o que aconteceu na corte de faraó no Egito, quando os milagres que Deus operou por meio de Moisés, suplantaram de longe o que os magos conseguiam fazer (Êx 7.9-12; 8.18).

Pense nisso.

7 comentários:

  1. Um excelente postagem meu caro amigo. Deus continue te inspirando a escrever com essa magistral competência. É muito claro que a finalidade desse artigo é a glorificação de Jesus Cristo, que é a Pessoa central do Evangelho. Com Ele tem milagre e salvação. Quem crer na Sua Palavra só tem a ganhar. Um abraço!

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  2. Mais uma vez só tenho a te agradecer pelo comentário caro Otoniel e rogo suas orações por esse ministério que Deus me concedeu, Deus abençoe você.

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  3. "Falo do Evangelho, falo de milagres. Prego o Evangelho, os milagres forçosamente estarão presentes." Está tudo resumido aí. É assim mesmo. Não existe Evangelho sem cruz... Como não existe Evangelho sem milagres. Deus abençoe você pastor e obrigada por compartilhar essa preciosidade conosco. Abraços!!

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  4. Obrigado minha querida, que Deus sempre me conceda Sua inspiração a fim de poder compartilhar muito mais de Sua Palavra. Que você e eu possamos crescer ainda mais n'Ele. Fica na Paz.

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  5. Obrigado Léo, vc já me convidou em meu outro blog e eu aceitei seu convite e me tornei membro do 2leep. Que Deus abençoe você.

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  6. Caro vizinho e irmão Cícero. Excelente postagem. Que Deus continue te inspirando para escrever Sua verdade com essa maturidade e destreza. Inflamou meu coração o seguinte trecho: "A ressurreição coroa toda a magnífica jornada do Salvador. Foi um milagre portentoso realizado por Deus. Pessoalmente, creio porém que a salvação dos pecadores, a ação do Espírito Santo para transformar o mais vil e abjeto ser humano em uma nova criatura, santo, regenerado, é o milagre dos milagres."
    Um grande abraço à você e sua linda família. Eric.

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  7. Obrigado Eric, que bom, fico imensamente feliz que tenha sido edificado com esse texto meu amigo. Não esqueça de orar por mim e divulgue meus blogs entre seus conhecidos e irmãos na igreja. Deus abençoe vc também e à sua família.

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