sábado, 11 de dezembro de 2010

Teologia Sistemática: Porquê?


Tenho grande apreço pelos estudos teológicos. Acredito que todo crente em Jesus Cristo, independentemente de sua condição intelectual ou denominação particular deveria participar de estudos teológicos frequentes. Isto porque a mente humana está constituída de tal forma que há um afã no desejo de conhecer, de indagar, de buscar compreender as causas e as razões de tudo o que lhe rodeia. Logicamente pessoas há que tem este desejo de apreensão de conhecimento em mais alto grau do que outras. Mas todos buscam a seu modo, razões para seu cotidiano. Explicações para sua vida e dos fatos que lhe rodeiam. E em se tratando do cristão sincero, que realmente teme ao seu Senhor, ele espera conhecê-Lo melhor a cada dia.

As verdades que o cristão necessita tomar conhecimento encontram-se na Bíblia. Estas verdades ou doutrinas bíblicas devem ser conhecidas e relacionadas com outras doutrinas igualmente bíblicas, assimiladas e demonstradas em sua harmonia e consistência. Somente assim, a Palavra de Deus se mostrará realmente relevante e condizente para o homem pecador. Ela trará à lume a verdadeira revelação de Deus sobre o estado do ser humano e o que o Senhor fez para resgatá-lo de sua condição desesperadora.

A Teologia Sistemática exatamente aí têm o seu nascedouro. Os fatos bíblicos sobre Deus, o homem, o mundo, Jesus Cristo, enfim, estão de tal forma dispersos nos relatos dos 66 livros da Bíblia, que se torna necessário um sistema, ou, uma sistematização desses fatos para sua melhor compreensão e apreensão. Saber meramente sobre estes fatos, por exemplo, de que Jesus Cristo nasceu de uma virgem em uma pobre estrebaria na cidade de Belém da Judéia há 2.000 anos atrás, é algo por demais isolado e superficial. Mas, saber porque Ele veio ao mundo, as razões de seu nascimento e o contexto em que isso se deu, é algo sumamente mais profundo. Para tanto, tornar-se-á imprescindível um sistema para melhor compreensão de tudo isso. Charles Hodge, teólogo reformado em sua excelente Teologia Sistemática (Hagnos, 2003, p. 2) diz: “Não podemos saber o que Deus revelou em sua Palavra a menos que entendamos, pelo menos em uma medida plausível, a relação em que as verdades dispersas nela compreendidas mantém umas com as outras.” Realmente, como disse Hodge, a necessidade de correlacionar as verdades doutrinárias que estão espalhadas pelos livros da Bíblia, demanda uma sistematização.

A mente pós-moderna não suporta tal ideia de sistematização de assuntos. Mais particularmente, o teólogo pós-moderno aceita uma premissa básica e nunca vai além disso. Por acreditar que tudo está fluindo e nada é definitivo, por acharem que existem várias verdades igualmente válidas, negam-se a fazer definições preferindo que tudo fique em aberto. A verdade teológica para eles é apenas mais um discurso como outros igualmente válidos existentes no mundo atual. Por isso, rejeitam a Teologia Sistemática, porque esta é definidora por natureza, atendo-se ao que é revelado por Deus em todas as páginas das Escrituras do Antigo e Novo Testamento.

Desconsideram a estabilidade e a perenidade da Palavra de Deus. E muitos outros cristãos nutrem um grande asco pelo pensamento claro e sistemático. Acham que a Teologia Sistemática é limitante entendendo que os teólogos estariam colocando Deus numa “fôrma” adequando-O aos seus sistemas teológicos. Dependendo de como o estudo e ensino da Teologia têm se conduzido, isto poderá até ter um fundo de verdade. Deus de fato não pode ser contido pelos esquemas e sistematizações humanos. Deus é um Ser livre e como tal, faz o que quiser e como bem lhe aprouver. Mas esta liberdade de Deus não contradiz Sua própria Palavra. E é isso que teimam em não entender, que Ele vela pela Sua Palavra para a cumprir (Jr 1.12). O fato da Revelação de Deus, o que Ele resolveu trazer à lume, Seus ensinamentos sobre tantos e variados aspectos serem arranjados em um sistema para melhor compreensão do homem, não deve ser entendido como limitador do agir de Deus. Ou como algo que não permitiria perceber a liberdade que o Senhor possui, a Sua soberania em fazer o que Lhe apraz.

Repudio veementemente os que hoje em dia rejeitam o estudo teológico sistemático. Não consigo compreender como eles formulam a verdade bíblica sem uma unificação e sistematização do conhecimento. Acumulam fatos sobre Deus e as demais verdades bíblicas. Mas são irracionais para a plena compreensão destes assuntos de forma coerente e racional. Alguns dizem que a racionalidade não é “coisa de Deus”. Ora, Deus é um Ser inteligente. Que por sua vez criou de forma inteligente o mundo e pôs nele criaturas inteligentes como Ele próprio, os seres humanos. E que estes seres humanos foram criados de tal forma que possuem um afã de compreender o mundo que os rodeia. Desejam saber o porque das coisas, porque elas são o que são. Isto porventura não nos fala claramente de que somos seres racionais, que usamos nosso entendimento e que isto provém do próprio Ser inteligente e racional que tudo isto criou?

É H.C.Thiessen quem nos diz: “A mente não se satisfaz em descobrir certos fatos a respeito de Deus, do homem, e do universo: ela deseja conhecer as relações entre essas pessoas e coisas e organizar suas descobertas em forma de um sistema.” Citando James Orr, diz-nos ainda: “Ela (a mente) não se contenta com conhecimento fragmentado, mas tem constantes a tendência de passar dos fatos para leis, de leis para leis mais elevadas, e destas para as generalizações mais elevadas possíveis” (Palestras em Teologia Sistemática, Imprensa Batista Regular, 1989, p. 7).

O pragmatismo de hoje, em que muitos pastores e igrejas desejam tão somente crescimento numérico sem aprofundamento adequado na fé mediante o conhecimento bíblico-teológico de forma sistematizada, têm produzido levas de cristãos extremamente superficiais e inclinados a aceitar os “ventos de doutrinas” que assolam nossos arraiais. Muitos destes líderes sequer tem um culto de ensino bíblico sistemático e abalizado em suas congregações. Enfatizam as chamadas “celebrações” com muita música e outros atrativos em detrimento da sã doutrina.

Da mesma forma, desdenham dos seminários de ensino teológico. Alegam que o líder ou obreiro é formado “em casa”, ou seja, na própria igreja. Reconhecemos que muitos seminários ou faculdades de ensino teológico, perderam sua razão de ser porque permitiram que o secularismo adentrasse em suas salas. Muitas destas instituições “tem forma de piedade, mas negam a eficácia dela” (2 Tm 3.5). E que os formandos destas ditas instituições de fato poderão prestar um desserviço à causa do reino. Mas existem instituições sérias e zelosas dos princípios bíblicos e que muito ajudam à causa do Evangelho, contribuindo para a formação de homens e mulheres comprometidos com Deus e com a verdade bíblico-teológica. Que estudam de forma sistemática as doutrinas bíblicas e tem um padrão de formação e erudição bíblica que é de muita valia para a igreja local.

Como disse Thiessen em seu livro supra, torna-se necessária a Teologia e esta de forma sistemática por causa: 1) Do instinto organizador de nosso intelecto; 2) Da natureza difundida da descrença em nossos dias; 3) Da natureza das Escrituras; 4) Do desenvolvimento de um caráter cristão inteligente; 5) Das condições para o serviço cristão eficaz (idem, pp 7-9).

Diante de tudo isso, gostaria que você, caro irmão, quer seja pastor, líder ou até estudante de Teologia, considerasse a importância fundamental da ciência teológica. Eu disse ciência porque antigamente a Teologia era considerada de fato a rainha das ciências. E a Teologia Sistemática era considerada a coroa da rainha. Mas muitos negam hoje de que a Teologia possa ser ciência. O Dicionário Aurélio define ciência como conhecimento ou saber que se adquire pela leitura e pela meditação; conjunto de conhecimentos coordenados relativamente a determinado objeto. Porque então este preconceito em não se considerar o estudo teológico como ciência? Poderíamos reescrever a definição de Aurélio da seguinte maneira: Conhecimento ou saber teológico que se adquire pela leitura e pela meditação; conjunto de conhecimentos coordenados relativamente a determinado objeto (a Bíblia Sagrada, neste caso).

Tenho ânsia de saber. O saber teológico-sistemático. É este saber ou ciência que leva-me a conhecer de forma mais adequada a Deus. A Sua Revelação não se deu num vácuo. Ela nos veio exatamente porque somos criaturas criadas à Sua imagem e semelhança e usamos nossas faculdades mentais no exame adequado desta Revelação. Cremos piamente que a melhor forma de apreender o que Deus nos revelou (evidentemente com a ajuda do Espírito Santo) é através da Teologia Sistemática. Portanto, repudiamos a todo estudo teológico que não se coaduna com o método sistemático de coleta de dados escriturísticos, comparando Escritura com Escritura e isto de forma exaustiva. De fato não é um trabalho fácil. Como estamos em uma era de facilidades e comodidades, deve estar aí a razão para o desprezo que tantos demonstram para com os estudos bíblicos-sistemáticos ou doutrinários.

Teologia é para ser pensada. E produzirá resultados em sua vida que inclusive o levarão ainda para mais perto de Deus, autor e doador de toda boa dádiva e de todo dom perfeito (Tg 1.17). Jesus disse assim: “E a vida eterna é esta: que te conheçam, a ti só, por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste” (Jo 17.3). Estudar sistematicamente as doutrinas da Bíblia é o caminho adequado para todo o que deseja conhecer a Deus cada vez mais.

Pense nisso.

Um comentário:

  1. Graça e paz irmão, é bem verdade mesmo que a ociosidade da busca pelo conhecimento que tem levado a muitos cristãos a deixarem o estudo sistemático da Palavra, pela busca de um caminho mais fácil, e esse "caminho mais largo" é perigoso e leva o homem a destruição. Excelente texto, abraços e que Jesus continue abençoando, Shalon Adonai...

    ResponderExcluir