quarta-feira, 22 de setembro de 2010

É dia, podemos ainda trabalhar....

O que quero dizer com este título? Pois algumas pessoas trabalham à noite. Eu mesmo já trabalhei algumas vezes em horários noturnos. Mas o mote é para que pensemos, enquanto cristãos, nas palavras de nosso Mestre, quando disse em João 9.4: "Enquanto é dia, é necessário que realizemos as obras daquele que me enviou; a noite vem, quando ninguém pode trabalhar" (Almeida Séc. 21). Jesus profeticamente sinalizava para todos os seus discípulos em todos os tempos, principalmente nos dias de hoje, das possibilidades melhores de se trabalhar em Sua seara de dia, ou seja, espiritualmente falando, em condições tais que aproveitemos todas as oportunidades que se nos apresentam para proclamarmos a verdade do Evangelho, enquanto a noite escura da perseguição e das trevas espirituais não se abatam sobre este mundo.

Em nosso país, por exemplo, há toda uma ambiência condizente para a Igreja trabalhar com afinco na proclamação do Reino de Deus. Ainda há condições de trabalho favoráveis. Mas, você já reparou como está sendo orquestrado diariamente um início de cerceamento de liberdades para que o verdadeiro Evangelho não seja mais proclamado abertamente? Talvez você não tenha ainda percebido claramente isto. Talvez você tenha sido contagiado pela onda de triunfalismo ou ufanismo de muitos cristãos evangélicos que imaginam, ingenuamente, de que "o Brasil é do Senhor Jesus". Estou sendo incrédulo ao criticar esta frase de efeito? De forma alguma. Pretendo me situar dentro do realismo bíblico. A Bíblia não diz que o Brasil ou o mundo inteiro seriam totalmente ganhos para o Reino de Deus. De que a proclamação do Evangelho traria a plenitude deste Reino. Jesus falou assim: "E este evangelho do reino será pregado em todo o mundo, em testemunho a todas as nações, e então virá o fim" (Mt 24.14).

Desta forma, fica patente o seguinte: 1) As igrejas cristãs deveriam reunir esforços para ainda mais intensificar o trabalho da Grande Comissão; 2) Dentro dos limites constitucionais, vetar qualquer iniciativa que impeça a livre proclamação do Evangelho; 3) Manter um testemunho ilibado, deixando claro para a sociedade que o nosso trabalho é de cunho espiritual, visando o benefício da totalidade da vida humana com o Evangelho.

Na verdade, o diabo continuamente desde o ministério terreno de nosso Senhor, passando pela fundação da Igreja em Atos 2 e no decorrer de toda a história do Cristianismo, procurou obstaculizar o trabalho dos servos de Deus. Nos primeiros dois séculos de história, a perseguição foi de caráter físico, onde muitos crentes morreram sob os imperadores romanos. Depois, o obstáculo foi de caráter doutrinário, com a inserção de muitas falsas doutrinas no seio da verdadeira fé cristã, gerando uma igreja majoritária na Idade Média que afastou-se da pureza do Evangelho, e aqueles que ousassem viver e anunciar um retorno à fé primitiva, eram perseguidos e mortos. A Reforma Protestante veio e propôs um retorno a fé genuinamente bíblica, mas, não muito tempo depois, sucumbiu uma parte do movimento protestante sob o indiferentismo e os ataques do liberalismo teológico. Os grandes avivamentos vieram em seguida, culminando no avivamento pentecostal no início do séc. 20 e um grande crescimento em missões pelo mundo inteiro. Mas os ataques de Satanás continuaram e hoje a pós-modernidade (contando em seu bojo com o secularismo, o individualismo e o pluralismo) conspiram fortemente contra a fé cristã.

A indisposição contra o Evangelho aumenta na medida em que escândalos são anunciados com estardalhaço na mídia contra os cristãos. Pastores surpreendidos em adultério ou em ilícitos financeiros estão aí para quem quiser ter o desprazer de ver. Igrejas anunciando aos quatro ventos a insidiosa teologia da prosperidade mesclada com práticas místicas e pagãs. Atitudes outras que de uma forma geral estão aos poucos gerando uma ojeriza por tudo o que se refere a Cristo e aos cristãos. Acredito que por esses fatos, reunidos a muitos outros, instituirão os pretextos necessários para que aumente o cerco ao proclamar livre da fé em Cristo, culminando na proibição pura e simples do trabalho da Igreja, como já acontece em países como a China, por exemplo. Lá existe uma igreja oficial, patrocinada pelo governo, portanto amordaçada e sem voz profética, e outra igreja, a subterrânea, que sobrevive a duras penas, sem liberdade, mas que pelo poder do Espírito Santo, está ativa, com sua chama acesa e somam-se aos milhões seus convertidos.

Vejam, não estamos aqui a declarar um desânimo ou uma derrocada de nossa fé. Ao contrário. Esta palavra é para que reflitamos sobre nossa caminhada e vivamos realmente como a Bíblia nos ordena que deve ser. Temos de Deus ainda a liberdade em nosso país para trabalharmos em prol de Seu Reino. Portanto, estamos na claridade do dia. Mas tenho que lhes falar que este já começa a declinar. Este entardecer é notório. Invariavelmente, a noite de trevas espirituais vai chegar. Deus nos advertiu em Sua Palavra.

Realizemos as obras d'Aquele que nos enviou enquanto ainda é dia. Lembremos do que disse o apóstolo Paulo: "Porque todos vós sois filhos da luz e filhos do dia; nós não somos da noite nem das trevas. Não durmamos, pois, como os demais, mas vigiemos, e sejamos sóbrios; porque os que dormem, dormem de noite, e os que se embebedam, embebedam-se de noite. Mas nós, que somos do dia, sejamos sóbrios, vestindo-nos da couraça da fé e do amor, e tendo por capacete a esperança da salvação. Porque Deus não nos destinou para a ira, mas para a aquisição da salvação, por nosso Senhor Jesus Cristo, que morreu por nós, para que, quer vigiemos, quer durmamos, vivamos juntamente com ele. Por isso, exortai-vos uns aos outros, e edificai-vos uns aos outros, como também o fazeis" (1 Ts 5.5-11).

Espiritualmente, somos do dia. Não somos da noite. Não temos compromisso com esta dimensão. Dela já estamos libertos. Permaneçamos na luz do dia e façamos as obras do dia. Obras que honram e glorificam ao Senhor da Glória. Busquemos as almas que ainda estão perdidas na noite de trevas em suas vidas. Arranquemo-nas de lá pelo poder do Evangelho. É a isto que devemos nos dedicar. A cada dia. Durante o dia.

Pense nisto.

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