segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Mundo, mais e mais consumista


O estado de consumo da humanidade, conforme o relatório "O Estado do Mundo" do Worldwatch Institute de 2004, continua a aumentar a cada dia. A China é o exemplo clássico, hoje, do nível de consumismo galopante. Esta nação era conhecida como "pátria das bicicletas" haja vista a população ter nela o seu principal meio de transporte. Suas ruas viviam apinhadas desses veículos, utilizadas por milhões de chineses para transporte pessoal e transporte de cargas igualmente. Nos anos 80, poucos veículos circulavam nas ruas chinesas. Dados de 2002 davam conta de que havia 10 milhões de automóveis particulares e o número de proprietários crescia aceleradamente: a cada dia em 2003, 11.000 mais veículos juntavam-se ao tráfego das rodovias chinesas – 4 milhões de carros novos no ano. As vendas aumentaram 60% em 2002 e em mais de 80% no primeiro semestre de 2003. Até 2015, nesse ritmo, os analistas da indústria calculam que 150 milhões de automóveis estarão congestionando as ruas chinesas – 18 milhões a mais do que circulavam nas ruas e rodovias dos Estados Unidos em 1999.

Muito embora já tenham passado oito décadas desde que o uso generalizado do automóvel popularizou-se nos Estados Unidos, a China está transitando por uma trilha já bem conhecida, mas a história automotiva da China não está ligada aos chineses nem ao automóvel, mas sim ao fato de que grande parte do mundo de hoje está entrando na sociedade de consumo num ritmo alucinante. É de cerca de 1,7 bilhões de adeptos os constituintes desta "classe consumista" sendo a metade deles nos países em desenvolvimento. É uma cultura e estilo de vida que se tornaram comuns na Europa, América do Norte e Japão e em alguns outros bolsões do planeta no século XX e que se globalizam no século XXI.

É notório que a chamada sociedade de consumo tem um forte atrativo e carrega em seu bojo muitos benefícios econômicos. É claro que as vantagens obtidas por uma geração anterior de consumidores deve ser compartilhada pela geração seguinte. Entretanto, o veloz e crescente aumento do consumo e as projeções que derivam deste fato indicam que o mundo estará logo à frente de um grande dilema. Porque, se o nível de consumo hoje aumentar em pelo menos metade da população que o planeta terá até o ano de 2050 (calcula-se que o mundo terá cerca de 9 bilhões de habitantes), a oferta de água, a qualidade do ar, florestas, clima, diversidade biológica e saúde humanas serão fortemente impactados. Apesar destes indícios, não há sinal de que haverá alguma desaceleração deste consumo, ao contrário, ele aumenta a cada dia. Os Estados Unidos, já há muito mais tempo que os chineses, usufrui de muitos bens de consumo e dentre eles os automóveis são um caso à parte. Em 2003 aquela nação dispunha de mais carros particulares do que motoristas, e os utilitários esportivos, beberrões de gasolina, estavam entre os veículos mais vendidos do país. Novas habitações aumentaram 38% em 2002, em comparação a 1975, apesar de haver um número menor de pessoas, em média, por moradia. Em síntese, há toda uma tendência na indústria e no comércio e serviços para atender às aspirações consumistas dos cidadãos americanos em todas as áreas e se estas aspirações não podem ser saciadas, as expectativas de controle do consumo nos outros países antes do desnudamento e degradação por completo de nosso planeta são desanimadoras.

Mas há sinais esperançosos também. Estão sendo desenvolvidas opções criativas para atender às necessidades das pessoas, e ao mesmo tempo, reduzir os custos ambientais e sociais associados ao consumo em massa. As pessoas são ajudadas a encontrar o equilíbrio entre muito e pouco consumo dando maior ênfase a bens e serviços públicos, a serviços em lugar de bens, a bens com maior teor de reciclados e a alternativas genuínas para consumidores. Em conjunto, essas medidas poderão contribuir para alta qualidade de vida com um mínimo de agressão ambiental e desigualdade social. Critérios devem ser aplicados não só na "quantidade" de consumo, como também na "racionalidade." O consumo em si mesmo não é um mal porque todos nós precisamos consumir para nossa sobrevivência. Mas, quando se torna um fim em si mesmo, o consumo ameaça o bem-estar das pessoas e do meio ambiente, sendo o principal objetivo de vida de uma pessoa ou, a medida máxima de sucesso da política econômica de um governo.

Jesus disse: "Acautelai-vos e guardai-vos da avareza; porque a vida de qualquer não consiste na abundância do que possui" (Lc 12.15). Já a Bíblia declara há muito tempo, antes do advento de nossa sociedade industrial e sua superoferta de bens e serviços, de que o consumismo não pode ser de forma alguma o foco central na vida de uma pessoa. E mesmo entre os cristãos, há muitos que não observam o conselho de Deus a respeito, e vivem atribulados com inúmeras dívidas em seu cartão de crédito, cheque especial, crediário, empréstimos, por causa da adesão a este estilo de vida que leva para baixo sempre a qualidade de vida de qualquer um. O apóstolo Paulo em 1 Tm 6.8 declara: "Tendo, porém, sustento, e com que nos cobrirmos, estejamos com isso contentes." Uma razão da ansiedade que assola o homem nos dias de hoje são os desejos não satisfeitos. Sendo uma sociedade globalizada de viés consumista, ela atiça as pessoas a que adquiram mais e mais, muitas vezes produtos sem necessidade, apenas pelo afã, pelo prazer que o ato de comprar proporciona (uma duvidosa terapia) e, quando isto não é realizável, lança o consumidor numa vala de insatisfação e até de depressão.

A vida que o Evangelho proporciona foge a estes ideais mundanos. Todos nós podemos hoje viver de uma forma equilibrada e equilibradora, consumindo o necessário e estimulando outros para que assim o façam. Temos, como seguidores de Cristo Jesus, uma responsabilidade crucial neste aspecto. A Igreja pode e deve estimular a vivência de um estilo de vida que seja diametralmente diferente do que hoje está mergulhada a sociedade globalizada. O autêntico e genuíno estilo de vida cristocêntrico confronta o estilo de vida mundial globalizado, desperdiçador de recursos e alienador dos seres humanos. Vivamos de tal forma que possamos oferecer ao mundo um estilo que preserve os recursos deste planeta que Deus outorgou ao homem.

Somente assim, o nome do Senhor será glorificado por nós (1Co 10.31). Fuja do consumo exagerado, fuja deste estilo de vida e seja como Jesus, repartindo e ajudando ao necessitado e recolhendo o que sobra para que não seja desperdiçado, veja as passagens da multiplicação dos pães (Mt 14.13-21; Mc 6.30-44; Lc 9+10-17; Jo 6.1-14), especialmente o verso 12 do capítulo 6 do Evangelho de João onde Jesus manda que os pedaços que sobraram fossem recolhidos para que nada se perdesse. Eis aí nosso modelo pleno de cuidado e exemplo de cultura anti-desperdício.

Que todos nós possamos pensar e colocar em prática a Palavra de Deus também neste aspecto.



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