sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Cristianismo de resultados (Megaigrejas S.A.)


O pragmatismo que assola a igreja de Cristo hoje no Brasil, tem sua geratriz em solo norteamericano. A tendência da igreja de copiar o que vem dos irmãos do norte da América é impressionante. São vários os modelos eclesiológicos para os quais a igreja pátria tem se voltado no afã de ganhar almas para Cristo, mas que tem se revelado modelos antropocêntricos, cujo foco, como no mundo da publicidade e marketing é o consumidor. Isto usurpa o que Deus tencionou para o crescimento saudável, real e natural da comunidade dos redimidos.
Não se trata de uma disputa entre o tradicional e o contemporâneo, mas sim entre o bíblico e o não-bíblico. Muitos ministérios tem como alvo o crescimento, os números, o templo lotado, em detrimento à qualidade do Cristianismo que se propõe a praticar, ou seja, qualidade de vida espiritual.
Há um triunfalismo exacerbado na igreja brasileira: "O Brasil é do Senhor Jesus". Não se considera mais em determinadas igrejas, a oração, o jejum, a importância do sofrimento pela causa do Evangelho, a leitura e a meditação nas Escrituras, o estudo bíblico-doutrinário. O que é evidenciado é o show, a festa, o ser cabeça e não cauda, a prosperidade somente (dinheiro, casa, carro, viagens, saúde perfeita), a leitura superficialíssima da Bíblia. O discipulado que deveria ser considerado prioritariamente em uma dimensão estritamente bíblica, calcada no ministério de Jesus, é menosprezado porque comodamente, pastores, muitos deles, não ensinam sobre este tipo de discipulado e, acima de tudo, não dão o exemplo porque não discipulam à maneira bíblica. O superficialismo na relação pastor X ovelha é gritante em muitos ministérios. Assumiram muitos destes pastores a postura de empresários da fé. Já não pastoreiam conforme a base bíblica, única e imutável.
Tudo isto denota o pragmatismo. Resultados são cobrados e evidenciados porque o que predomina são os números a casa cheia. Alegam que isto é resultado de evangelização, é benção de Deus. Não acredito. Muitas vezes, o público destas igrejas é um público flutuante que está ali para buscar as bençãos e não o Abençoador; está ali para se "sentir bem", mas não querem um profundo compromisso com Cristo, com honrosas exceções. Este público deseja o fruir de emoções e repudia a reflexão da verdade doutrinária que é o que alicerça a fé do crente. Busca o showgospel até nos cultos e não adora a Deus em espírito e em verdade.
Igrejas lotadas, é tudo o que importa. Alistaremos aqui as cinco maiores megaigrejas nos EUA hoje em número de membros: 1) Lakewood em Houston, Texas (foto), liderada por Joel Osteen com 42 mil membros; 2) Saddleback Church, Califórnia, liderada por Rick Warren com 30 mil; 3) Potter's House, Dallas, Texas, liderada por T.D. Jakes com 30 mil membros igualmente; 4) World Changers International Church, Geórgia, liderada por Creflo Dollar com 25 mil e 5) Willow Creek Church, liderada por Bill Hybels em Chicago com 20 mil membros. De uma forma ou de outra, todos estes citados líderes destas megaigrejas são questionados por seus métodos ou a teologia que praticam. Estando as igrejas cheias é o que basta, não importando se a filosofia de ministério desses líderes ou sua teologia tenha fundamentação na sã doutrina.
Gostam de utilizar de técnicas de marketing que de fato, produzem resultado, mas a verdadeira conversão seguida de uma profunda vida com Cristo num discipulado verdadeiro e autêntico é posta de lado. Indagamos se uma igreja cheia é, necessariamente, sinônimo de verdadeiro avivamento? De forma alguma, porque o verdadeiro avivamento é promovido unicamente pela Palavra de Deus. Palavra pregada expositivamente, Palavra ensinada sistematicamente na igreja e crendo sempre no que está escrito em 1 Co 3.6: "Eu plantei, Apolo regou; mas Deus deu o crescimento."
Não é possível que determinados pastores continuem a utilizar-se de técnicas meramente humanas e não tenham seu ministério orientado pela perspectiva inteiramente bíblica. Certo que há insights interessantes nas ciências humanas mas lembremo-nos sempre: a igreja dos dois primeiros séculos da era cristã cresceu extraordinariamente por causa da dependência do Espírito Santo e da Palavra que era obedecida em sua íntegra.
Este pragmatismo afeta a vida da igreja na santificação, no louvor, porque tudo é direcionado para resultados. Isto gera uma mentalidade de autômatos que fazem o que lhes é ordenado, sem que reflitam, sem pensarem O QUE e o PORQUE de estarem fazendo o que fazem. Os pastores ordenam aos seus obreiros auxiliares e estes fazem sem pestanejar o que o "ungido do Senhor" está determinando.
O foco em resultados deve estar somente nas mãos de Deus conforme 1Co 3.6. Somos cooperadores de Deus, é certo, mas somente isto, cooperadores, o querer e o realizar é segundo a Sua vontade soberana. Ao servo de Deus cabe obedecer conforme os parâmetros exarados nas Escrituras sob a orientação do Espírito Santo. É necessário sem mais demora voltar aos princípios bíblicos no que tange não só a eclesiologia, mas a todo o espectro da vida cristã. Um líder que não tem uma filosofia de ministério derivada da Palavra de Deus (unicamente), será cooptado por esses modismos eclesiológicos.

Por uma eclesiologia estritamente bíblica, centrada nas Escrituras e não no marketing e em fórmulas para fazer crescer a igreja.
Por uma igreja totalmente centrada em Cristo, isto é, voltada para Cristo e não para o "consumidor."

A igreja pode ser genuinamente brasileira e eminentemente bíblica. É possível. Assim como pode uma igreja nos Estados Unidos ser autenticamente americana e totalmente bíblica em seu proceder. O Evangelho tem um maravilhoso caráter universal e ele pode transformar as culturas naquilo em que não procedem de acordo com a vontade divina. Mas hoje, a cultura tem invadido as igrejas ao invés da igreja transformar a cultura para a glória de Deus!
Irmãos, deixemos os resultados de nosso labor com o Supremo Pastor do rebanho o qual Ele comprou com o Seu sangue. Jesus mesmo disse "sem mim nada podeis fazer." Nossa parte é obedecer, repito, as instruções que o Senhor já deixou-nos em Sua Palavra. Alguém disse que o evangelicalismo brasileiro tem alguns quilômetros de extensão, porém alguns centímetros de profundidade. Uma igreja grande, numerosa. Mas uma igreja ávida por modismos. Uma igreja alegre. Mas que não considera com a devida seriedade o que dizem as Escrituras. O meu temor é que nesta última hora, muitos sejam levados de roldão pelos modismos que surgem a cada momento porque temos sido em grande parte uma igreja pragmática focada em resultados, em números e não em crescimento e enraizamento na fé em Cristo por meio do Espírito Santo tendo como base, como única regra de fé e prática a Palavra de Deus.
Meu apelo é que todos nós pensemos seriamente nisto, amém.



Nenhum comentário:

Postar um comentário