quinta-feira, 7 de março de 2013

Igrejas-empresas, projeção, prosperidade e poder

Conversava com minha esposa nessa manhã, à hora do café e falávamos sobre uma questão que gera muita polêmica: o fato de que certas igrejas são abertas em cidades e em bairros destas cidades onde o poder aquisitivo é maior e isto muitas vezes perto de outros ministérios, bem perto, na mesma rua ou quarteirão e em alguns casos até mesmo ao lado de outro templo já estabelecido há mais tempo no local.

O que me pergunto é o seguinte: Porque essas igrejas ou ministérios, chegando em determinada cidade, não procuram antes um bairro mais pobre e humilde para ali iniciarem o trabalho? Porque não procuram erigir uma igreja, ou mesmo, alugar um salão na parte pobre do município, visto que o trabalho da Igreja do Senhor não é "anunciar aos pobres o Evangelho?" ( Mt 11.5; Lc 7.22).

Sendo assim, não posso concordar com certas igrejas atuais que insistem na prática de estabelecerem-se em locais onde o poder aquisitivo das pessoas é alto. O que isto vem a significar? De que, antes de tudo, o que realmente interessa, não é ganhar as pessoas para o Senhor Jesus, em primeiro lugar, mas sim, conquistar em primeiro lugar seus bolsos, ou, suas carteiras. Sim, porque com a mentalidade empresarial que certos pastores de hoje possuem, mentalidade pragmática, de negócios, as "business churches" multiplicam-se a cada dia, porque o capital, o monetário, o lucro, é o que realmente atrai. Se no processo, alguns realmente se converterem ao Evangelho, tanto melhor. Mas, os dízimos e as ofertas devem ter a prioridade, e não a conversão, o discipulado, o ensino, a renúncia pessoal pelo bem do Reino de Deus.

E não adianta dizer que "o mundo" não está na Igreja. Sim, ele está mais do que podemos imaginar. Quando vejo igrejas evangélicas que priorizam o capital em detrimento da visão de como ser uma igreja bíblica, quando tudo o que pregam é uma prosperidade segundo parâmetros humanos e não segundo as ordenanças divinas, gera uma igreja de interesses monetários, que arrecada muito dinheiro, mas não arranca muitas almas das mãos de Satanás. 

Quero ver as igrejas brasileiras que se baseiam na arrecadação financeira (dízimos e ofertas) abrirem uma congregação em bairros pobres, mas muito pobres mesmo, sabendo que a entrada monetária será sempre fraca, em comparação às suas grandes igrejas em locais mais abastados, quero saber se eles tem interesse real em pregar o Evangelho aos pobres, como disse Jesus que deveríamos fazer, ou, se entendem que não é vantajoso, porque não é lucrativo, não gera recursos, mas, ao contrário, vai gerar muitas despesas para a igreja-matriz. Sei que algumas igrejas brasileiras que pregam o discurso herético da teologia da prosperidade, tem alguns templos em áreas pobres, mas de que adianta se a mensagem que pregam é diluída, é insossa, é deficiente, ou seja, não é saudável espiritualmente?     

Enquanto isso, olho com admiração e respeito para outro tipo de igreja no Brasil que está sim nas áreas pobres das grandes cidades com grande sacrifício de recursos materiais e humanos e que não se furta de pregar a sã doutrina, que ganha almas de fato, que discipula, ensina, igrejas que não medem esforços de anunciar o Evangelho aos pobres, igrejas que não querem arrancar o suado dinheiro dos crentes em Cristo, mas que ensinam uma saudável mordomia dos recursos. Crentes que vão dizimar e ofertar pelos motivos certos, pelo correto ensino bíblico que recebem e não por imposições anti-bíblicas de líderes ambiciosos e mal intencionados, que pregam uma esperança vazia de sentido bíblico. É isto que as igrejas que apregoam o evangelho da prosperidade material tem feito e quantos desiludidos estão hoje longe de Cristo por causa desse discurso falso.

O maior desejo dos pastores dessas igrejas capitalizadas é ver sempre seus templos abarrotados de pessoas, porque isto é sinônimo de boas entradas financeiras. Só focam neste aspecto. Quando falam em "ganhar almas para Jesus" é no sentido de encher os bancos ou cadeiras da igreja, tornando dia após dia estas pessoas contribuintes fiéis da "obra de Deus" e fazendo com que entendam que a vida com Cristo se resume a dizimar e ofertar com fidelidade e então, somente então, as bençãos estarão disponíveis, "as janelas do céus se abrirão" sobre a vida do contribuinte (cristão?) fiel. 

E com isso estes pastores capitalistas aumentam seu exército de seguidores fieis, geram obreiros à sua imagem e semelhança e estes são enviados para irem a uma localidade (claro, preferencialmente com pessoas de bom poder aquisitivo) para gerarem uma nova igreja nos mesmos moldes. E enquanto isso, onde estarão as igrejas que pregam e vivem o autêntico Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo?  

Conheço igrejas assim. Que claramente definiram sua visão pela estratégia capitalista. Não estão dentro da visão do Senhor Jesus "que sendo rico, por amor de vós se fez pobre; para que pela sua pobreza enriquecêsseis" (2 Co 8.9b). Na verdade, os 'ministérios monetários" são ricos, não se fazem pobres em favor dos pobres, e em sua riqueza, empobrecem ainda mais os pobres, tanto materialmente como espiritualmente.  

Mas louvo ao Senhor pelas igrejas sérias e responsáveis que ainda pregam o verdadeiro Evangelho, sem invencionices humanas e sem interesses escusos. Não são perfeitas, é claro, mas também não se entregam aos modismos que todo dia aparece na mídia, e por aparecerem na mídia, escandalizam cada vez mais as pessoas quanto à verdade do Evangelho de Cristo. Porque entendem que ser cristão, ser crente, é ser mantenedor financeiro da igreja, com falsas promessas de prosperidade, e nada mais. Triste constatação, mas é a realidade para muitos hoje em dia.

Que o Senhor possa abençoar ao Seu povo, que multipliquem as igrejas sérias, engajadas na pregação autêntica do Evangelho, tanto em áreas pobres, cidades ou bairros, como também nas localidades de maior riqueza de seus habitantes, porque o Evangelho de Cristo tem de ser pregado a todos, pobres e ricos, não há acepção de pessoas quanto a isto. Minha crítica neste texto, vai contra os pastores interesseiros, que imaginam tudo, dinheiro, posses, prosperidade, projeção e poder, e fazem da piedade causa de ganho (1Tm 6.5). Neste versículo, o apóstolo Paulo recomenda para que nos afastemos dos tais. 

Pense nisto.

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