sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

O pensamento mítico e a genuína fé cristã

É interessante observar que toda Teologia tem pressupostos filosóficos. A Filosofia busca a coerência interna, a definição rigorosa dos conceitos, o debate e a discussão e organiza-se em doutrina. Da mesma forma a Teologia. É interessante notarmos a passagem na antiga Grécia, da concepção mítica do mundo, para o pensamento filosófico. Isso foi um processo lento que levou séculos. Há uma semelhança com o que acontece entre muitas igrejas e muitos cristãos.

Na periodização da história da Grécia Antiga, temos o período da civilização micênica (desenvolve-se desde o início do segundo milênio antes de Cristo), foi a época da conquista da cidade de Tróia.

Depois temos o período dos tempos homéricos (séculos XII a VIII a.C.) é denominado esse período assim porque nele teria vivido Homero (autor dos poemas épicos Ilíada e Odisséia). A Ilíada trata da guerra de Tróia e a Odisséia narra o retorno de Ulisses (Odisseus) a Ítaca após a guerra de Tróia.

Período arcaico (séculos VIII a VI a.C.). Nesse período ocorrem grandes transformações sociais e políticas no mundo grego e surgem as cidades-estado (pólis).

Período clássico (séculos V e IV a.C.). Este é o áureo período da civilização grega. A democracia ateniense surge, as artes, a literatura e a filosofia expandem-se extraordinariamente. É a época dos filósofos mais famosos, Sócrates, Platão e Aristóteles.

Período helenístico (séculos III e II a.C). A decadência ocorre nessa fase com o domínio macedônico e conquista pelos romanos. Influência de civilizações orientais.

Mas o que é o pensamento mítico? É a maneira pela qual um povo explica aspectos essenciais da realidade em que vive. Desde a origem do mundo, passando pelo funcionamento da natureza e dos processos naturais e as origens desse povo e seus valores basilares. Caracteriza-se o mito por ser um discurso imaginário. Os relatos míticos eram tradições transmitidas oralmente. A consciência mítica no povo grego era aguda nos tempos homéricos por causa de relatos heróicos nas guerras, onde os personagens eram homens, deuses e semideuses. A própria existência de Homero é posta em dúvida, alguns estudiosos pensam que a Ilíada e a Odisséia eram obras de variados autores.

Lendas e narrativas míticas não são produto de um só autor ou de vários autores, mas é parte constituinte da tradição folclórica e cultural de um povo. Não se conhece sua origem no tempo e sua forma de transmissão é oral. O mito é fruto de uma tradição cultural e não é atribuída a sua autoria a um determinado indivíduo. O mito é então a própria visão de mundo e a maneira de se vivenciar a realidade.

No período arcaico surgem os primeiros filósofos gregos, por volta de fins do século VII a.C. e durante o século VI a.C. atingindo o seu auge no período seguinte, o período clássico. A passagem do pensamento mítico para o pensamento filosófico, ou seja, para uma racionalidade crítica, não se deu instantaneamente. Foi um processo lento. A filosofia surge na Grécia como resultado de fatores através dos tempos e não houve um desligamento total de seu passado mítico. A filosofia começa a se distinguir do mito porque apresenta uma variedade de explicações para a realidade. Ela procura distanciar-se do dogmatismo dos relatos míticos.

Com isso, quero dizer que ocorre o mesmo fenômeno em cristãos individuais e com comunidades cristãs inteiras. Existem muitos crentes que vivem num mundo mítico. Existe uma mística no Evangelho, na vida cristã. Mas ela não se constitui de mitos, algo fantasioso e está sempre ancorada na realidade do testemunho bíblico. O problema é que muitos, ou por deficiência em seu discipulado e ensino (está em uma igreja que não possui nem um nem outro ou se tem, é bastante deficiente) ou por desinteresse mesmo (no caso de ser uma igreja que ensina, que discipula adequadamente) vivem num mundo de fantasia e ilusão. Acreditam em coisas que não tem base na Bíblia. É o caso principalmente em igrejas neopentecostais que se baseiam em uma cosmovisão aquém da realidade bíblica e creem em coisas que não tem o menor respaldo escriturístico.

Esses pretensos seguidores de Jesus tem uma leitura mítica da vida cristã. Não consideram o texto bíblico em sua essência, em sua integralidade e por isso baseiam sua fé em coisas que são criações humanas. Tradições sem fundamento. Discursos imaginários. Folclore gospel. As denominações possuem seus costumes e tradições, muitas sem amparo escriturístico fazendo com que o crente fique aprisionado. Dão mais valor ao mito do que à objetividade da revelação bíblica. A Bíblia para eles serve somente para amparar algumas concepções pré-concebidas (e muitas dessas são puramente míticas) e nada mais. Creem em Jesus mas não crescem na graça e conhecimento dEle conforme 2Pe 3.18.

Não vou aqui elencar algumas coisas que já vivenciei. Mas dar estas orientações gerais a fim de todo aquele que ler possa discernir o que se passa em seu ambiente ou entenda o que se passa consigo mesmo. Muitos ensinos nas igrejas, por causa de muitos pastores são pobres de real conteúdo bíblico. Enfatizam sobremaneira as “tradições dos antigos” (Mc 7.5). E também obedecem cegamente (sem atentar para o que diz a Bíblia, como os bereanos fizeram, At 17.11) os ensinamentos de sua denominação e/ou de seus pastores, que tantas vezes inclui ensinos estranhos às Escrituras.

O apóstolo Paulo adverte a Timóteo assim: “Propondo estas coisas aos irmãos, serás bom ministro de Jesus Cristo, criado com as palavras da fé e da boa doutrina que tens seguido. Mas rejeita as fábulas profanas e de velhas, e exercita-te a ti mesmo em piedade” (1Tm 4.6,7). A versão da Nova Tradução na Linguagem de Hoje verte a expressão “fábulas profanas e de velhas” como “lendas pagãs e tolas”. A Bíblia de Jerusalém diz, “fábulas ímpias, coisas de pessoas caducas. Tem de haver então rejeição completa das fábulas (mitos, lendas). Outro texto que também ensina quanto a isso é o de Tito 1.14: “Não dando ouvidos às fábulas judaicas, nem aos mandamentos de homens que se desviam da verdade.”

Ao escrever esta reflexão, é meu desejo de que nesses dias tão confusos, onde a Palavra de Deus é violada, maltratada e porque não dizer, desprezada, possa voltar ao lugar de onde nunca deveria ter saído. O centro da vida de cada servo de Deus. Quando o Senhor falava a Josué de que ele seria o sucessor de Moisés, disse que se ele observasse a Sua Palavra, ele prosperaria (Js 1.8). Essa observância nada tem a ver com a obediência a mandamentos humanos. Nada tem a ver com concepções míticas, lendárias, fantasiosas que tantos fazem da vida com Cristo e da Igreja do Senhor. Concepções essas que aprisionam o povo a uma cosmovisão que não tem outro nome que não seja uma COSMOVISÃO PAGÃ porque pouco ou quase nada possui do que seja biblicamente mensurável.

Não se deixe mais escravizar por isso meu querido irmão. Liberte-se exatamente de tudo isso ao ler e guardar os verdadeiros mandamentos bíblicos. Que nada possuem de mitos ou contos de fadas. Muitos há que consideram o relato da criação do mundo em Gênesis como algo fantasioso. Mas é preciso ter mais fé para crer no que os evolucionistas dizem, por exemplo, visto ser o Evolucionismo sim, uma grande mentira com glamour científico, do que para o relato singelo e coerente da Bíblia que muitos estudiosos estão começando a comprovar com as mais recentes descobertas científicas.

Caso você esteja ainda atrelado a uma cosmovisão mítica da vida cristã (note, escrevi mítica, e não mística) está na hora de você passar para o pensamento racionalmente bíblico. Você terá coerência interna, a definição rigorosa dos conceitos, o debate e a discussão e será doutrinariamente saudável. Despreze o paganismo de que é possuidor aquele pensamento fantasioso, legalista, quase que inteiramente apegado à tradições em nenhum fundamento bíblico. Cuidado com os muitos modismos que tem se introjetado na fé cristã, onde todos os dias algo novo e mítico, ou seja, fantasioso, mentiroso, ventos doutrinários (Ef 4.14), fazendo com que sejamos arrastados para longe da via principal da fé cristã, bíblica e ortodoxa.

A realidade de sua vida com Cristo não pode se amparar em lendas. Em mitos. Em discursos imaginários. Fique com o que diz o texto bíblico. Não se aparte nem para a direita e nem para a esquerda (Js 1.7). Fique no caminho estreito da fé genuinamente cristã (Mt 7.13,14), fé essa que de uma vez por todas foi entregue aos santos (Jd 3).

Pense nisso.

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