sábado, 19 de novembro de 2011

Sentindo saudades do Egito e do Nem da Rocinha

Nos últimos dias os veículos de comunicação deram um grande destaque à prisão do traficante Antônio Francisco Bonfim Lopes, vulgo Nem, que era o chefe do tráfico de drogas na Favela da Rocinha no Rio de Janeiro. Nem foi preso, quando tentava fugir escondido no porta malas de um veículo de luxo e seus comparsas passaram-se por representantes do governo do Congo, país africano, e tentaram subornar aos policiais que abordaram o veículo. De forma admirável e enobrecedora, cumpriram seu dever não se deixando seduzir pelos valores que lhes foram ofertados (que chegou até a 1 milhão de reais) e efetuaram a prisão do traficante.

O meliante tinha sua base na muito conhecida Rocinha, favela que é a maior do Brasil. Seus "negócios" movimentavam 100 milhões de reais por ano e ele estava estabelecido há 10 anos no local sucedendo a outro famoso traficante vulgo Bentevi. Nem montou um esquema de beneficiamento e produção de drogas na favela e aliciava moradores para comprarem produtos químicos que seriam usados na fabricação, cerca de 200 pessoas na favela foram cooptadas pela quadrilha de Nem e faziam o serviço sem levantarem suspeitas. Além disso, havia o suborno que o traficante pagava a vários elementos da força policial, que sem nenhum senso de dignidade, vendiam sua honra aceitando as propinas financeiras para fazerem vista grossa para os negócios do traficante terem continuidade na favela sem ser incomodado.

Mas quero destacar a chamada "visão social" que o traficante mantinha. Segundo informações apuradas pelas autoridades e repórteres, Nem ajudava na manutenção de escolinhas de futebol na Rocinha, financiava bailes funk e outros eventos e em uma entrevista concedida a uma repórter da revista Época, dez dias antes de ser preso, disse que ajudava garotos para não entrarem no crime dando dinheiro para comida, aluguel, escola e para que saíssem da favela. Além disso, serviços como a distribuição de gás e tv por assinatura eram controlados pelo traficante.

Apesar do império que construiu à base de contravenções, extrema violência e impunidade escrachada, Nem mantinha essa fachada beneficiente e isto está sendo levado em consideração pelas autoridades. Com a prisão do traficante e de outros comparsas, os "benefícios" que muitos moradores tinham não estarão mais disponíveis. O povo de Israel teve saudades do Egito, sentindo falta das "panelas de carne" (Êx 16.2), murmurando contra Moisés pela sede e por havê-los tirado daquele país (Êx 17.3) e lembrando também dos peixes, pepinos, dos melões, das cebolas, dos alhos (Nm 11.5) e temendo pelos gigantes da terra de Canaã (Nm 13 e 14) e assim, tiveram o desejo do retorno ao Egito por causa da comida farta e gratuita que teriam mas também voltariam à antiga condição de escravos.

Semelhantemente, se o Estado não introduzir seus serviços para beneficiar a população (nem todos recebiam as benesses do traficante e a grande maioria sentiu alívio por sua prisão) esta poderá também reclamar e alegar que no tempo em que o traficante estava entre eles, apesar da violência e do medo, eles eram ajudados em suas necessidades.

Este é um lugar onde existem muitas necessidades a serem preenchidas. Escolas, creches, serviço de coleta de lixo, serviços de água e luz, transportes. É uma população enorme encravada na encosta de um morro na zona sul do Rio de Janeiro e ficou abandonada há décadas pelas autoridades e submissa aos chefões do tráfico. Agora é hora de reconstrução da cidadania que lhes foi negada em todo esse tempo.

Deus em sua misericórdia ouviu o clamor de muitos em todos esses anos que sofriam debaixo do jugo do tráfico de drogas e na semana passada, dia 10 de novembro, Nem foi preso. Também o Senhor ouviu o clamor do povo israelita (Êx 3.7,8) que sofriam debaixo da opressão dos egípcios e providenciou a sua libertação. Moisés escreveu: "E o Senhor nos tirou do Egito com mão forte, e com braço estendido, e com grande espanto, e com sinais e com milagres" (Dt 26.8). O livramento foi uma operação poderosa da parte do Senhor dos Exércitos que pelejava pelo Seu povo. Mas mesmo assim, diante das dificuldades naturais de uma travessia no deserto, ao invés de lembrarem do grande livramento que tiveram e confiarem em Deus para Lhes suprir o necessário, optaram infelizmente pela murmuração e, o que era pior, pelo retorno ao Egito.

Parece que o povo de Israel não lembrava mais de que, junto com toda a fartura que tinham, havia também o jugo da escravidão. É desejo de todos que não haja esse tipo de lembrança entre o povo da Rocinha em relação a Nem e seu bando. Verdade que recebiam os moradores os benefícios, mesmo que de uma fonte ilícita, mas no pacote havia juntamente violência, medo, lei do silêncio, confecção, tráfico e uso de drogas. Nossa oração é de que o governo do Estado do Rio de Janeiro e a prefeitura municipal do Rio possam projetar e implementar um amplo leque de benefícios para toda aquela população recém saída do "Egito", ou seja, a opressão do crime organizado na favela da Rocinha.

Que a Igreja do Senhor, que já atuava na região continue e implemente ainda mais seu trabalho. São várias as denominações que mantém congregações na Rocinha e agora com a libertação ocorrida, providência de Deus e resposta de oração, os filhos do Reino que ali estão possam ainda mais empenharem-se em alcançar aquelas vidas para o Senhor Jesus Cristo e mostrar a diferença que o Evangelho faz, pois é essa mensagem que verdadeiramente trará a emancipação para todos que estiverem debaixo de qualquer espécie de jugo opressor, principalmente o jugo do pecado, e serem colocados sob o jugo suave de Jesus (Mt 11.28-30). E que a mensagem seja pregada de tal forma para que jamais os que a aceitarem tenham o mínimo desejo de retornarem ao mundo (o Egito) porque lá reina um cruel e tirânico senhor, Satanás (figurativamente, faraó).

Pensemos todos nisto.

6 comentários:

  1. Que a igreja faça seu papel de ser sal é luz ali naquele lugar. Gostei do artigo meu amigo. Paz!

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  2. Sim, e que ainda mais pessoas conheçam o poder do verdadeiro Libertador e Pacificador, fica na Paz, Rô!

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  3. Absolutamente correta a comparação e a visão da necessidade da "igreja" entrar em ação. Verdadeiramente a "igreja de Cristo" cumprindo a sua missão pode e muito auxiliar nesta "PACIFICAÇÃO DA ROCINHA" e BRASIL... Depende de nós.

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  4. Certamente, e sem bandeiras denominacionais, é o nome de Cristo que deve ser exaltado acima de tudo.

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  5. Excelente analogia ! Sem dúvida é hora da Igreja de Cristo no Rio acordar e ver cada favela pacificada como um vasto campo missionário.

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  6. No que já estão fazendo Claúdia, mas agora poderão realizar com mais tranquilidade sem a presença ameaçadora do tráfico.

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