quarta-feira, 9 de novembro de 2011

A lamentável falta de reflexão teológica de muitos pastores


Acho profundamente lamentável a falta de reflexão bíblico-teológica entre os cristãos. Principalmente entre os pastores, aqueles que deveriam ser modelos nessa atividade. É claro que não estou generalizando, porque existem honrosas e notáveis exceções, mas entre os pastores evangélicos brasileiros, predomina o pragmatismo em seus ministérios de tal maneira, que muitos já chegaram ao cúmulo de acharem (e se pronunciarem publicamente a respeito) que não é necessária a reflexão teológica. Tocam seus ministérios no afã de cumprirem sua agenda pessoal ou, para cumprirem expectativas de terceiros, ou de sua congregação, e pouco ou quase nada existe de um trabalho exegético sério e que utilize as línguas originais da Bíblia a fim de prepararem sermões expositivos que tragam a real mensagem de Deus para o Seu povo.

Num tempo em que predominam os recursos audio-visuais, nossas igrejas tem lançado mão à farta dos avanços tecnológicos capitaneados pela revolução na informática e assim, nesse caldo high tech quase ninguém quer se dar ao trabalho de aprofundar seu conhecimento bíblico à maneira que já pode se dizer antiga, ou seja, debruçando-se sobre o texto, inquirindo sobre ele, pesquisando a fundo para saber o real sentido da passagem em apreço. Deveriam fazer assim, não pelo conhecimento em si, mas para conhecer a Deus muito mais a cada dia. Esse conhecimento se dá, com toda a excelência que nos é possível, através do aprofundamento bíblico. Os pastores deveriam ser os exemplos, não só de santidade, mas também igualmente de profundo interesse pelo texto bíblico, em estudá-lo com afinco, com reverência e fugindo do superficialismo que essa era informatizada está nos legando.

O mercado editorial evangélico no Brasil tem produzido literatura bíblica e teológica de alta qualidade. É inaceitável continuarmos na superfície do conhecimento de Deus que emana primariamente das Escrituras do Antigo e Novo Testamento. Essa produção de livros cristãos num universo de dezenas de editoras deveria ser objeto de maior atenção de crentes em geral e de pastores e obreiros em particular. Comprar livros dedicar-se à leitura e estudo dos mesmos, como ferramentas de auxílio ao entendimento bíblico, produz muitos frutos que glorificam sem dúvida ao Supremo Autor.

Gostaria sinceramente que nossos amados e denodados pastores pudessem deixar um pouco de lado sua preocupação com números, ou seu desejo de projeção ministerial e pudessem dedicar-se primariamente à oração e ao ministério da Palavra (At 6.4).

E que pudessem também, com zelo e desejo profundo e santo de transmitirem todo o conselho de Deus (At 20.27), que se propusessem a colocar em prática uma reflexão teológica que iria se refletir nos sermões que fossem pregados. Que mergulhassem na atividade exegética, que estudassem o grego e o hebraico, a fim de extrair do texto bíblico a real intenção de Deus para com o homem (Is 55.8,9).

O pragmatismo fez sua obra deletéria em meio aos pastores, obreiros e crentes em geral nos nossos dias, de tal maneira que existe um grande antiintelectualismo que impede a reflexão teológica que se faria necessária. Muitas igrejas e comunidades por isso não possuem mais a Escola Bíblica Dominical, por exemplo, porque, para determinados pastores, ela se constitui, como ouvi certa feita um pastor dizer, "coisa do velho paradigma". Ora, se não quisessem ter a Escola Dominical com esse nome, tudo bem, mas achar que o ensino da Bíblia é "coisa antiga", convenhamos. Em outras palavras, foi o que ele quis dizer, porque aquela igreja possuía uma boa EBD foi sumariamente extinta e nada parecido foi criado em seu lugar. Conclusão: A ambiência que os irmãos tinham naquela congregação para refletirem um pouco sobre a Palavra de Deus, para estudarem as doutrinas bíblicas, foi arrancado por causa da visão distorcida sobre a educação cristã que os insígnes obreiros daquela igreja tinham.  

Além disso, igrejas há em que os pastores não ensinam sistematicamente as doutrinas da fé cristã. Se limitam a pregar aos domingos, muitas vezes de forma não-expositiva, e o resultado é a gênese de cristãos desconhecedores dos elementares princípios da Palavra de Deus, a fundamentação necessária para crescerem. Por isso é que Paulo fala aos Efésios "Antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo" (4.15).

O pastor é aquele servo de Cristo que mais do que qualquer outro, deveria fazer da reflexão teológica uma ocupação constante. Isso deveria ser o centro de seu ministério. E nisso eles tem um grande exemplo nos pastores puritanos do século XVII. Sabe-se que tinham grande apreço pela pregação bíblica e expositiva e seus sermões duravam em torno de duas horas, segundo os historiadores. O que isso tem a nos ensinar? De que possuíam grande zelo pelo estudo bíblico, pela reflexão aprofundada (a maioria conhecia muito bem as línguas originais bíblicas) para trazerem às suas respectivas congregações a Palavra autorizada de nosso Senhor. O conselho de Deus, não o conselho dos homens!

Minha intenção não é ofender a ninguém. Até porque, não citei nomes. Mas ficam as observações. Por isso o nome Observatório Teológico deste blog. Não poderia ser de outra forma. Finalizo com as recomendações de Paulo, primeiramente para seu discípulo e jovem obreiro Timóteo e por extensão a todos que labutam no  hoje no sagrado encargo, no nobre chamado, de pregar e ensinar a Palavra de Deus, leiamos: "Persiste em ler, exortar e ensinar, até que eu vá. Não desprezes o dom que há em ti, o qual te foi dado, por profecia, com a imposição das mãos do presbitério. Medita estas coisas; ocupa-te nelas, para que o teu aproveitamento seja manifesto a todos. Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina. Persevera nestas coisas; porque,  fazendo isto, te salvarás, tanto a ti mesmo, como aos que te ouvem" (1Tm 4.13-16).

A todos os crentes em Jesus e principalmente aqueles encarregados da Palavra, amados pastores, pensem muito sobre tudo isso.

7 comentários:

  1. Descuidar da reflexão teológica é entregar as ovelhas para os lobos que andam à espreita dos crentes despreparados. Pastores que sacrificam o seu tempo com "besteirol teológico", no tempo a conta chega. Sei que este despreparo se dá por conta das imposições precipitadas de muitos pastores que ordenam obreiros sem o devido preparo teológico. Consagram os que têem dinheiro, influência entre outras coisas...é lamentável! Gostei do texto. Muito bem escrito e oportuno, Cícero.

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  2. Pragmatismo é a filosofia do nosso tempo.....fazer e fazer e realizar coisas. Não se gasta tempo com Deus e Sua Palavra. Não há reflexão. Os que assim fazem são como gotas no oceano evangélico brasileiro. Acham perda de tempo gastar tempo de reflexão com Deus, em oração e debruçados sobre a Bíblia. Como vc disse Otoniel, em seu tempo devido chegará a conta. Obrigado pelo seu comentário meu irmão e amigo, fique na PAZ!

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  3. Caro Cícero,

    Excelente texto este seu. Agradeço a Deus por existir pessoas como você que fala a verdade em amor.

    Deveras é triste quando visitamos o lar de um Pastor e não vemos nenhum livro em sua estante, revelando o total desprezo para com o cultivo da mente. É lamentável sabermos que os mesmos nunca fizeram sequer um curso básico em teologia e até são contra o estudo da Bíblia. É de causar dó ao ver que muitos pastores nunca leram a Bíblia toda. E o mais triste é saber que são eles convidam ou deixam convidar falsos mestre$ para pregar (pregar?) em suas igrejas.

    Pb. Edinei, Th.B

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  4. Então é o meu marido, uma dessas exceções a regra. Glória a Deus!!!!!!

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  5. Queridos Edinei e Natali, obrigado pelos seus cometários antes de tudo e quero dizer que sim, infelizmente Edinei, muitos pastores tem uma ideia equivocada no que tange ao conhecimento do Livro de Deus, e sendo assim, ficam à mercê de falso$ mestre$, tanto ele como a sua congregação. E que bom Natali que seu esposo cultiva o conhecimento, que ele permaneça assim e será ainda mais um vaso útil nas mãos do divino oleiro. Deus abençoe a vida de vocês!

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  6. Caro Cícero,

    A EBD está na UTI.
    Com tristeza tenho que dizer que a EBD está á beira da falência em nossas igrejas. Apesar de todo esforço da Cpad em promover a EBD, nossos lideres não a apoiam. O excesso de atividades nas igrejas, principalmente no sábado (os embalos de sábado á noite -kkkkkk; são tantos eventos, shows, aniversários, festas, encontros, etc...) tem tirado a disposição dos crentes de frequentar a EBD. Isso sem falar na incapacidade dos "professores". Ora, com tantas opções no domingo de manhã (ir ao Zoológico com a família; assistir fórmula 1; ir á feira; dormir mais um pouquinho para recuperar as energias gastas na dura semana de trabalho; ir ao clube, etc...)quem vai se levantar cedo pra ficar ouvindo historinhas contadas por professores que não querem aprender para ensinar? Falo desta forma porque sei que é isso que tem enfraquecido a EBD.

    Mas pensando bem, pra que EBD, se numa noite os pregadores de congressos jogam fora tudo que foi ensinado na EBD?
    Não sei se é do conhecimento dos irmãos, mas existe um grupo de ateus nos Estados Unidos que já tem uma "Escola dominical" onde a cada domingo seus filhos aprendem como desacreditar o cristianismo. E a frequência é levada bastante a sério. Lá eles aprendem lições que ridicularizam a inerrância das escrituras; a existência de Deus e tudo que se trata de religião.
    E nossos filhos onde estão no domingo de manhã?
    A propósito, certa feita um "professor" de EBD ligou para o Superintendente no sábado á noite e disse que não poderia dar aula no outro dia, pois tinha um compromisso muito importante e não poderia faltar ao mesmo. Depois o superintendente ficou sabendo que o "compromisso" importante era na verdade uma pescaria. Pois é o "professor" preferiu pescar do que dar aula. Vejam aí um dos motivos que faz a EBD estar do jeito que está.

    Pb. Edinei, Th.B

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  7. Sem dúvida meu caro Edinei, concordo com suas assertivas. É triste este estado de coisas. Eu fui criado na EBD e meus filhos idem. Isso ajudou a consolidá-los na fé. Hoje, não estamos mais na AD devido ao discurso insistentemente legalista e ao formalismo religioso. Mas amo a EBD e sei o quanto é importante. Creio que tudo passa pela conscientização. Tanto de lideranças como de todo o rebanho. Consciência de que o ensino bíblico não pode ser abandonado. Não pode ser negligenciado. Se fica difícil atualmente levantar nas manhãs de domingo para ir à EBD, devido ao cansaço acumulado da semana ou por causa de professores fracos, por exemplo, esses fatores e outros devem ser avaliados e mudados. Para o bem da EBD? Não, para o bem do ensino da Bíblia. Mude-se então o horário. Ou mude-se o dia (tire-se então o D de EBD, Escola Bíblica, ou EBS, Escola Bíblica Semanal, bem entendido). Que haja uma busca da excelência na escolha e treinamento de professores. Que haja a cobrança forte da responsabilidade dos professores. A conscientização (tudo isso regado a oração) poderia mudar essa lamentável situação que tão bem você mencionou. Que seja o ensino na igreja algo muito profundo, mas que tenha estruturas dinâmicas também. Continuo abominando igrejas sem ensino bíblico, ou que tenha, mas que seja lamentavelmente medíocre. Continuo sendo contra a transformação do culto em show gospel. Continuo sentindo asco com pastores que desprezam a reflexão na sã doutrina e partem para o pragmatismo visando encher os bancos da igreja. Um abraço meu amado e que você tanto como eu reme contra a maré vigente. Ah, seria louvável se a pescaria do professor de EBD fosse pescaria de almas, evangelismo. Embora ele ainda estaria em falta pois uma turma ficou na sala sem ser servida por ele. Fica na paz!

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