segunda-feira, 6 de setembro de 2010

O antiintelectualismo a serviço das eleições

É um fato comprovado de que o povo brasileiro é um dos que menos lê no mundo. E também proporcionalmente, a quantidade de cidadãos que possuem um curso superior, comparado com a população de nível superior na Coréia do Sul, por exemplo, é muito menor. O número de analfabetos funcionais também é fato reconhecido. Pessoas que lêem mas não entendem ou não sabem interpretar o que leram. Tudo isto é muito lamentável e preocupante.

John Sott em seu pequeno, mas notável livro Cristianismo Equilibrado (CPAD, 1982), diz que a fuga da razão é um sinal distintivo da vida secular contemporânea” (p. 21). E discorre sobre o que aconteceu nas eleição presidencial norte-americana de 1960 em que Richard Nixon perdeu para John Kennedy. Citando Joe McGuiness que escreveu The Selling of the President 1968 (A Venda do Presidente, 1968): “Os organizadores da campanha ficaram convencidos de que Nixon perdera a eleição para Kennedy, em 1960, porque Kennedy tinha uma imagem televisiva bem melhor que a de Nixon. Então consultaram Marshall McLuham para orientá-los em como fazer com que Nixon se ‘projetasse eletronicamente’, em como transformá-lo de ‘um advogado seco e sem graça’ em um ‘ser humano afetuoso e animado’. ‘Política’ – o professor Mcluham assegurou-lhes - ‘é apenas uma ciência racional’. ‘Eleições’ – insistiu - ‘não são ganhas na bancada eleitoral apresentada, mas nas imagens’. ‘Faça os eleitores gostarem da cara do sujeito’ e a campanha está virtualmente ganha” (idem).

Se isso se passou na nação mais desenvolvida do mundo, com tantos recursos, com uma pujante economia e com tantas universidades de renome, o que dizer do Brasil, que poderá eleger um candidato a presidente da república, sem analisar criteriosamente suas propostas e as de seu partido?

A ausência de leitura, a incapacidade de se fazer uma análise crítica da realidade, a mente despojada da capacidade de filtrar as informações ponderando-as com critérios racionais, torna as pessoas vulneráveis ao recebimento de propostas sem arguí-las adequadamente e sucumbir também ao discurso populista. Acredito que Hugo Chávez na Venezuela tenha alcançando uma grande aceitação nas camadas pobres da população (que são a maioria) devido a esta incapacidades citadas à pouco. Seu discurso e propostas são aceitos sem a devida ponderação (salvo honrosas exceções, que sofrem sistemática censura da parte de Chávez), mesmo com seus desmandos e imposições autoritárias.

Por aqui se aproximam as eleições e tememos que o antiintelectualismo de muitos, ou seja, o menosprezo a qualquer ponderação crítica equilibrada diante das propostas (se houverem) e dos fatos, possam fazer com que seja eleito um candidato ou por sua aparência pessoal, ou por sua oratória, ou performance nos debates, ou ainda, o que é mais grave, pela provável indução levada a efeito pelos institutos de pesquisas de intenções de voto, suspeitos de estarem manipulando as pesquisas para que o povo inadvertidamente possa votar no candidato que (supostamente) lidera a corrida à presidência.

Lamentavelmente também e até porque não dizer, em maior volume, este antiintelectualismo é corrente entre o povo de Deus. Os cristãos são de escassos hábitos de leitura, muito embora nos últimos anos houvesse uma ligeira queda nos números daqueles que não cultivavam hábito tão salutar e essencial. Mas ainda permanece um certo obscurantismo em certos setores do espectro cristão. Muitos não conseguem discernir com a devida acuidade a conjuntura do momento. Certamente ajudarão a eleger o candidato que lidera as pesquisas, mas que não teve a leitura imprescindível que deveria estar sendo feita de suas propostas.

Não podemos deixar de mencionar a atitude deplorável de determinados líderes, pastores, que, “passando-se por mais esclarecidos” do que o restante do rebanho, aderem a determinada candidatura, muitas vezes movidos por simpatias pessoais e até alguns conchavos, buscando auferir vantagens para sua igreja ou denominação, caso o candidato escolhido seja eleito. O povo, à mercê destes insensatos dirigentes, é “convidado” a votar neste ou naquele candidato. Uma desonra para o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Gostaria de recomendar a todo cristão que exerça o seu inalienável direito de votar conforme sua consciência. Conciência esta, supondo-se cristã, eivada dos princípios da Palavra de Deus. Com inteligência e bom senso, o crente pode desempenhar um papel fundamental em nossa democracia, ajudando a eleger os candidatos aos cargos pleiteados nestas eleições (presidente, governador, senador, deputado federal e deputado estadual). Não caia na conversa mole de tantos que querem desvirtuar sua capacidade intelectual. Deixe todo o preconceito contra a pesquisa e o estudo de forma que um saudável discernimento possa tomar lugar em sua vida.

Amemos a leitura e o estudo. A Bíblia diz em Pv 4.5-7: Adquire a sabedoria, adquire inteligência, e não te esqueças nem te apartes das palavras da minha boca. Não a abandones e ela te guardará; ama-a, e ela te protegerá. A sabedoria é a coisa principal; adquire pois a sabedoria, emprega tudo o que possuis na aquisição de entendimento.” Somente através da leitura, estudo e meditação da Palavra de Deus, o crente adquirirá sabedoria, entendimento e discernimento. E também através da leitura e estudo de bons livros nas várias áreas do conhecimento humano, o obscurantismo de tantos não lhe será uma companhia, visto que exercerá uma salutar e responsável mordomia de seu intelecto.

De você ainda não tem o hábito da leitura, ainda há tempo de reverter esta situação qualquer que seja sua idade ou nível de conhecimento. Procure em sua igreja os irmãos que são reconhecidamente estudiosos, que gostam de ler. Indague a eles sobre seus hábitos. Peça-hes sugestões de leitura. Fuja do convencional padrão de obscuridade de muitos. E lembre-se destas eleições, não se deixe levar por opiniões de quem quer que seja. Exerça seu senso crítico para a glória de Cristo. O bem de nossa pátria passa pela sua rejeição à antiintelectualidade. Não corteje mais a mediocridade.

Pense nisto.

4 comentários:

  1. Muito bom o seu texto. No Brasil, dinheiro, tempo de TV e um bom marqueteiro são 80 por cento de uma campanha vitoriosa. O plano de governo, o passado do candidato, sua postura ética, isso sempre ficam em segundo plano. É só ver como a figura da Dilma que por natureza é carrancuda e grossa de repente se torna "a mãe do PAC" e por tabela psicológica, a "mãe dos pobres".

    Parabéns pelo blog. Abraços

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  2. Obrigado Eduardo, de fato estas coisas acontecem pela falta de hábito do povo brasileiro, reafirmo, de ponderar, examinar, arguir, questionar, observar, estudar, ler.....mas podemos ajudar a esclarecer a muitos através da palavra escrita, sermos um ponto de resistência aos especialistas em enganar seus semelhantes com discursos vãos. Deus abençoe sua vida, tornei-me seguidor em um de seus blogs.

    Cicero Ramos

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  3. Irmão Cícero,
    Parabens por esse texto tão profundamente esclarecido, através da luz do Evangleho de Jesus Cristo. Como bibliotecaria, confirmo suas declarações quanto aos analfabetos funcionais e eles vem sendo produzidos pelo próprio governo que aí está!
    Lamentamos a atual situação política brasileira. Creio que das duas, uma: ou Deus vai reverter essa situação e dar mais um livramento para nosso país, ou Ele vai mandar um avivamento e nos encorajar para sairmos com ousadia defendendo nossas convicções, da mesma forma que os judeus puderam se defender da mortandade que lhes estava decretada no reinado de Assuero.
    Oremos, pois Deus não está ignorando o que está acontecendo nos bastidores... Tenhamos fé que Ele vai agir de alguma forma!
    Sonia Costa

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  4. Ler sua confirmação do que escrevi acerca do analfabetismo funcional confirma a atualidade do assunto tratado neste post. Obrigado por suas observações. Vamos sim orar pela nação. Creio igualmente no fato de que Deus está atento a todos os acontecimentos, principalmente aqueles que estão ocultos aos nossos olhos. Que Ele abençoe ricamente você.

    Cicero Ramos

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