sábado, 3 de dezembro de 2011

Sabedoria para discernir a cultura do mundo

O cristão vive no mundo, mas não é do mundo. O Senhor Jesus disse de forma categórica em Sua oração sacerdotal no cap. 17 do Evangelho de João: "Não são do mundo, como eu do mundo não sou" (v.16). E a Palavra de Deus traz recomendações expressas sobre o cuidado que todo crente deve ter com o ambiente em que vive, o mundo. A atmosfera espiritual desse mundo é contrária a Deus e Sua vontade. Está o seguidor de Jesus em um ambiente reconhecidamente hostil. E é nesse lugar que ele deve cumprir sua missão e seu testemunho conforme o Senhor Jesus notificou na Grande Comissão (Mt 28.19,20; Mc 16.15,16; At 1.8). Então necessário se faz que o crente e a Igreja por extensão tenha sabedoria para discernir o modus vivendi do mundo, sua cultura, para que ele não se contamine, espiritualmente falando, com o que há no mundo e possa assim levar a efeito a missão que lhe é atribuída pelo Senhor de toda a terra.

Necessária se faz uma compreensão das palavras gregas que o NT usa para o termo "mundo". Existem quatro vocábulos. O primeiro deles é ge significando "terra", "campo", "chão", no sentido puramente físico, contrastando terra e céus.

A segunda palavra é oikoumene que significa "terra habitada". Outro termo é aion, que significa essencialmente "tempo" mas por extensão também inclui o "espaço", indicando assim tudo aquilo que existe sob o condicionamento do tempo e do espaço. Existe aqui também a conotação de um aspecto ético-espiritual debaixo do poder do príncipe das trevas conforme Ef 2.2; Gl 1.4; 2Co 4.4.

Mas é o último vocábulo que queremos ressaltar e é a palavra kosmos que em sua origem indicava o mundo físico com sua consequente ordem e arranjo. Este termo aponta para o universo material como um sistema que Deus criou segundo os Seus propósitos (Mt 13.35; At 17.24). Também vem a transmitir a ideia do planeta Terra como o lugar da habitação dos homens (Jo 16.21; 1Jo 3.17) vindo então o fato da humanidade em sua plena totalidade (Jo 1.29; 3.16; 4.42). Para além desses sentidos, a palavra kosmos trata do sistema de valores alienado de Deus, que direciona o pensamento dos seres humanos para se oporem ao Senhor. Por isso o kosmos jaz no maligno (1Jo 5.19, cf Jo 12.31; 14.30), as trevas espirituais reinam nesse mundo (Jo 1.5; 12.46) e tudo isso por causa do pecado que entrou no mundo por causa da desobediência de Adão (Rm 5.12). Por isso o mundo está debaixo da condenação de Deus exatamente porque se opõe a Ele e a Seus propósitos (Jo 9.39).

Então, se o mundo em que ora vivemos é marcado pela maldição do pecado e está em profundas trevas espirituais, sendo a arena onde Satanás age contra Deus e Seus filhos, devemos como crentes em Jesus ter muita sabedoria ao viver nossas vidas nesse ambiente rarefeito e hostil. Estou convencido que muitas das derrotas e fragilidades do cristão individualmente e também da Igreja como Corpo de Cristo, advém de não se saber discernir com acuidade o mundo e sua cultura.

O Pacto de Lausanne contribui para que entendamos algo sobre cultura. O parágrafo 10 diz: "A cultura deve sempre ser julgada e provada pelas Escrituras. Porque o homem é criatura de Deus, parte de sua cultura é rica em beleza e em bondade; porque ele experimentou a queda, toda sua cultura está manchada pelo pecado, e parte dela é demoníaca. O Evangelho não pressupõe a superioridade de uma cultura sobre a outra, mas avalia todas elas segundo o seu próprio critério de verdade e justiça, e insiste na aceitação de valores morais absolutos, em todas as culturas."

"Cultura" é uma palavra que não se define de forma facilitada. Pode-se definir como os padrões ou paradigmas seguidos por um determinado grupo. A cultura compreende todos os aspectos da vida humana. No centro disso há uma cosmovisão, ou seja, um entendimento amplo do caráter do mundo e do lugar que se ocupa nesse mundo. Este entendimento ou compreensão tanto pode ser em um conceito religioso (relativo a Deus ou a deuses e espíritos e a nossa relação com eles) como pode expressar em um conceito secular da realidade, como seria o caso da sociedade regida pelos padrões de Karl Marx, por exemplo.

Isso posto, acho que podemos começar a entender a necessidade de se ter sabedoria. O apóstolo Pedro diz em sua primeira epístola: "Amados, exorto-vos, como peregrinos e forasteiros que sois, a vos absterdes das paixões carnais que fazem guerra contra a alma, mantendo exemplar o vosso procedimento no meio dos gentios para que, naquilo que falam contra vós outros como de malfeitores, observando-vos em vossas boas obras, glorifiquem a Deus no dia da visitação" (2.11,12 - ARA). Peregrinos e forasteiros. Realmente é o que somos neste mundo que está em rebelião contra Deus. Aqui não é nosso lugar porque não somos mais pertencentes, espiritualmente falando, deste mundo que nascemos e crescemos e onde vivemos até agora. Pedro aconselha a deixar as paixões da carne, nossos pecados, vivendo em santidade como Deus exige. Nessa mesma epístola, porém no capítulo primeiro, o apóstolo diz, sob a inspiração do Espírito Santo, para não mais nos amoldarmos aos desejos da carne (1.14), sermos santos, assim como Deus é santo, em todo o nosso proceder (1.16), e andar, ou seja, viver sob o temor de Deus durante o tempo que vivermos aqui nesse mundo, o tempo de nossa peregrinação (1.17).

Estas coisas, o temor a Deus e a santidade pessoal, fazem parte intrínseca de nossa característica enquanto filhos de Deus que somos. Conforme 2.12, Pedro nos diz que devemos ser um exemplo para os não-crentes, agindo com correção em tudo o que procedermos nessa vida. Ora, isso nada mais é que viver com sabedoria. E é vivendo dessa maneira que saberemos discernir continuamente a cultura desse mundo. Se como o Pacto de Lausanne nos ensina que parte da cultura humana é rica em beleza e em bondade, porém manchada pelo pecado e parte dela é inteiramente demoníaca (e é só lançarmos um olhar ao nosso redor e facilmente verificaremos isso), devemos exercer um discernimento contínuo para que não caiamos no pecado de amar o mundo e seus valores corrompidos. Tanto o apóstolo Tiago ensina que a amizade do mundo é sinônimo de inimizade contra Deus (Tg 4.4), como o apóstolo João (1Jo 2.15-17). E João deixa clara a verdade de que os maus desejos da natureza humana, a vontade de ter o que agrada aos olhos e o orgulho pelas coisas da vida, tudo isso não vem de Deus, mas são coisas próprias deste mundo decaído. E o que fizer a vontade do Senhor permanecerá, enquanto o mundo e tudo o que lhe é próprio vai passar.

O discernir envolve primeiramente o deixarmos ser discernidos pela Palavra de Deus. Se eu não permitir o trabalho do Espírito Santo em minha interioridade (Hb 4.12), terei dificuldade para ter a sabedoria necessária e então discernir o mundo em redor. A segunda percepção de discernimento que deveremos possuir é o discernimento entre o bem e o mal. Sermos maduros para discernir não somente o bem, mas também o mal (Hb 5.11-14). Deus é o supremo Bem, mas Satanás é a inconfundível expressão maior do Mal. A terceira percepção é o discernimento entre a verdade e o erro. Às vezes verdade e erro podem ser confundidos com o bem e o mal. A verdade conduzirá ao bem, mas o erro levará ao mal. Por isso diz o apóstolo: "Nós somos de Deus; aquele que conhece a Deus nos ouve; aquele que não é da parte de Deus não nos ouve. Nisto reconhecemos o espírito da verdade e o espírito do erro" (1Jo 4.6 - ARA).

A verdade e o erro possuem várias dimensões de discernimento como conceituais, éticos, espirituais e teológicos. Em todos eles se trava uma luta titânica onde os espíritos enganadores (1Tm 4.1), procuram atacar os cristãos para lhes induzir ao pecado e ao erro bem como o apego à sociedade mundana e seus valores. O mundo exerce um fascínio sobre o homem, quer seja cristão ou não-cristão e precavido deve o crente estar contra estes ataques diuturnos que sofre pelo Príncipe desse mundo e seus asseclas, ou seja, Satanás e os demônios. Ora, se o diabo tentou a Jesus com o fascínio das coisas desta vida (Mt 4.8.9; Lc 4.5-7), é óbvio que também iria tentar a todos os discípulos do Senhor com tudo que o mundo decaído oferece para fazer com que estejamos amortecidos em nossa fé e por conseguinte nos afastemos de Deus e Sua vontade.

Jesus nos ensina a discernir. É ele quem diz: "Hipócritas, sabeis interpretar o aspecto da terra e do céu e, entretanto, não sabeis discernir esta época?" (Lc 12.56). Ele dissera às multidões que eles tinham sabedoria para entender o tempo, o clima, se iria vir chuva ou se haveria calor. Todavia, não tinham sabedoria para discernir o que Deus estava fazendo entre eles na Pessoa de Jesus, o Messias. Podemos aplicar esta passagem para compreendermos que discernir a cultura do mundo é fundamental para que não sejamos enganados, aceitando em nossa vida ou na Igreja aquilo que não é para ser aceito. Meditemos nas exortações do profeta Isaías (5.8-25).

Que possamos assim então buscar na Palavra de Deus a sabedoria que deveremos ter para discernir a cultura deste mundo que realmente jaz no Maligno (1Jo 5.19). Nunca antes como hoje a Igreja e cada crente individualmente, necessita dessa sabedoria que deve vir unicamente do alto, e ela é pura, pacífica, moderada, tratável, cheia de misericórdia e de bons frutos, imparcial e também é sem hipocrisia (Tg 3.17).

Querido e amado discípulo de Cristo e servo de Deus, pense nisso!


2 comentários:

  1. Amado irmão, todos os dias falamos para os nossos filhos...cuidado!!! cuidado com as coisas deste mundo...ouvimos...não tem nada a ver não papai...Então insistimos...cuidado! sabemos que o inimigo de nossas almas está pronto para nos tragar...nos levar para a perdição. Gostei muito deste texto. Obrigado por tão sábias palavras. Grande abraço!

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  2. Que bom que tenha servido para sua edificação Rodirlei, fico feliz e grato a Deus, que Ele abençoe você!

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