Tenho a mais absoluta convicção de que uma igreja que realmente seja acolhedora, servidora, ministradora da graça de Deus às vidas que ali aportem, deveria ser sempre aquela onde os membros pudessem se conhecer mutuamente e conviver entre si de forma constante, onde o tamanho dela não ultrapassasse essa medida, onde o perseverar na doutrina dos apóstolos, na comunhão, no partir do pão e nas orações (At 2.42) fosse pleno, onde houvesse um só o coração e alma dos que cressem em Jesus, onde ninguém pudesse dizer que coisa alguma fosse sua própria, mas onde todas as coisas lhes fossem comuns, onde não houvesse necessitado algum, havendo bens fossem generosamente repartidos se porventura houvesse algum necessitado entre os irmãos (At 4.32-35).
Creio que uma igreja que assim vivesse e assim agisse nos dias de hoje seria revolucionária porque estaria dentro do ideal concebido no Novo Testamento. A primitiva igreja de Jerusalém era assim. Mas, alertamos que não queremos idealizá-la como a igreja perfeita, sem falhas. De forma alguma. Esta igreja ensimesmou-se e foi necessário que o Senhor permitisse de que ela fosse perseguida (At 8.1) a fim de que fielmente cumprisse o mandado do Senhor de pregar o Evangelho (Mt 28.19,20; Mc 16.15-18; At 1.8) em todos os lugares e a todos os povos.
Portanto, o que gostaríamos de ressaltar é a virtude que a igreja de Jerusalém possuía como vemos tão bem descrita por Lucas no livro de Atos. Diante do afã de pastores e ministérios por crescimento, por constituírem megaigrejas apenas destacando o crescimento numérico em detrimento da qualidade da comunhão, é que escrevo estas linhas para fomentar uma necessária reflexão.
Vemos hoje que muitos pastores se destacam não por exatamente pastorearem as almas, pelo cuidado intenso do rebanho, mas por serem gerentes, administradores, CEO's de suas organizações eclesiásticas. E acham que estão certos. Mantém a distância do rebanho e cercam-se de inúmeros auxiliares, terceirizando sem pudores a função pastoral e contentando-se em gerir o seu império. Quero dizer, embasado nas Escrituras, de que Jesus não os chamou para isto. O paradigma do chamado pastoral encontra-se na restauração de Pedro relatada no Evangelho de João 21.15-17, onde o Jesus ressurreto conclama a Pedro por três vezes para que pastoreasse Suas ovelhas. Pedro, que negara o Senhor três vezes, agora recebe este chamado triplo para ser pastor de almas. Jesus não chamou-o para que em Jerusalém alugasse uma sala e organizasse uma entidade evangelística ou eclesiástica, arrecadasse fundos para isso, nomeasse auxiliares para a tarefa e assim ele ficaria como o gestor deste negócio. Não. Seu chamado era para cuidar de vidas.
Na sua primeira epístola cap. 5 versos 2 e 3, é o próprio Pedro quem fala: "Apascentai o rebanho de Deus, que está entre vós, tendo cuidado dele, não por força, mas voluntariamente; nem por torpe ganância, mas de ânimo pronto; nem como tendo domínio sobre a herança de Deus, mas servindo de exemplo ao rebanho." Vemos desta maneira que o apóstolo seguiu exatamente o que havia sido ordenado por Jesus e tornou-se pastor, tendo ainda deixado, sob a orientação do Espírito Santo, conselhos para todos os que se ocupassem deste mister.
Uma igreja que seja pastoreada efetivamente, e não somente administrada, gerenciada ou chefiada será uma igreja neotestamentária de fato. Ela precisa ser assim, para não ser como determinadas igrejas ou pastores de nossos dias. Aqui e ali surge a igreja-empresa. Não mais se cultiva a mutualidade entre os irmãos, não se valoriza o convívio sincero onde se possa expressar o amor a outrem e promover sua edificação. A sensibilidade para com os necessitados é praticamente nula. O ativismo é grandemente valorizado, em detrimento muitas vezes da reflexão genuinamente bíblica e prática de oração. Os cultos se transformaram em shows, onde o que vale, o que realmente interessa é a performance dos músicos, a utilização exagerada de recursos de multimídia, a repetição de slogans ou bordões sem nenhum respaldo bíblico.
Acredito que uma igreja possa ser numericamente grande, muitos membros, muitos reais seguidores de Jesus Cristo e ser devidamente pastoreada. Onde hajam líderes devidamente preparados, que pastoreiem de fato assim como o pastor principal faz. Este por sua vez, apesar do tamanho de sua congregação, cultiva o salutar hábito da visitação pastoral. Pelo menos uma vez, ele deveria ter a hombridade de visitar os irmãos pessoalmente, não terceirizando esta prática, mas ele mesmo juntamente com sua esposa deverá visitar os crentes de sua igreja.
Um pastor que ama as ovelhas, tem de estar necessariamente com elas. É muito fácil hoje o pastor de uma grande igreja desculpar-se por causa do tamanho de sua comunidade e, acomodando-se, não dedicar-se a procurar conhecer o estado de suas ovelhas (Pv 27.23) e assim também não fortalece a fraca, não cura a doente, não torna a trazer a perdida e a desgarrada (Ez 34.4). Lógico que, além de visitar, ele tem de ensinar aos seus co-pastores, pela palavra e pelo exemplo, a fazerem o mesmo. É evidente que, sendo uma grande congregação, este encargo sagrado da visitação pastoral não poderá resumir-se ao pastor principal, mas, à semelhança dos auxiliares que Moisés constituiu a conselho de seu sogro Jetro (Êx 18), deverá este encargo ser delegado aos demais pastores e líderes reconhecidos da igreja. Mas o pastor-sênior deve fazer sua parte também e não terceirizar algo que é inerente ao seu chamado. Um pastor deve estar junto de suas ovelhas. Sempre.
Há uma evasão contínua de membros de determinadas igrejas, porque não recebem o devido cuidado pastoral. Porque os pastores-gestores de hoje criam uma lacuna enorme entre si e o rebanho. Porque a igreja assim não reproduzirá aquelas virtudes maravilhosas que lemos sobre a igreja de Jerusalém. Ora, se os pastores, que deveriam dar o principal exemplo, procedem dessa maneira, não dá para esperar grande coisa de uma igreja assim. Se tudo o que o pastor deseja é somente de que a igreja cresça numericamente e não coloca o seu coração direcionado ao rebanho, em pessoalmente alimentá-lo (quando falo em alimentar, não é somente com os sermões pregados aos domingos, mas, como disse, visitando as ovelhas, procurando estar com elas pessoalmente), enfim, se ele procede de forma contrária ao que o NT preconiza claramente, estará somente alimentando uma superestrutura e fomentando recursos para seu sustento pessoal, sua própria fama e poder, sua glória pessoal.
A igreja que vai fazer a diferença nas vidas das pessoas nos dias de hoje que antecedem ao breve retorno de Jesus, é aquela que realmente coloca em prática o ensino bíblico a respeito. Que despreza os modismos que afloram constantemente e que conspiram muitos destes contra a essência de uma comunidade que têm o sagrado encargo de restaurar vidas por meio do Evangelho da graça de Deus. Certamente há uma tensão entre o tradicional e o contemporâneo. É a questão da contextualização do Evangelho. Mas devemos nos lembrar que, o critério que Deus usará para aprovar ou desaprovar o trabalho de Sua igreja, é se o ministério exercido foi de acordo com Sua vontade ou contrário a ela, ou seja se bíblico ou não-bíblico. Essa é a medida correta de aferição.
Que a igreja nos dias de hoje não seja conformada com o mundo, mas conformada com o que ensina a Bíblia. O Evangelho é glorioso demais para resumir-se a preocupações numéricas, coisas essas que muitos pastores não escondem, ou seja, por todas as formas anseiam o crescimento de seu rebanho e adotam práticas que não possuem o devido respaldo bíblico. Pessoas são aceitas como membros em determinadas igrejas, por exemplo, são batizadas sem um necessário período probatório, para que se verificasse a firmeza da fé dos mesmos. A Ceia do Senhor também está sendo ministrada em determinadas comunidades para qualquer um, quando claramente o NT demonstra que a Ceia é somente para efetivos discípulos de Jesus, o que se está fazendo é a vulgarização destas duas ordenanças de Jesus, o batismo e a ceia, para que o apelo por uma igreja cheia, lotada de pessoas mas não de discípulos verdadeiros seja cada vez mais seja atendido.
Só para recordar, estas são as tendências recorrentes nos dias em que vivemos então: megaigrejas e ausência quase total de comunhão, líderes que são tudo, menos pastores. Sem generalizar, é o que temos presenciado. Onde estarão os pastores de Deus, que amam a Jesus e amam também as ovelhas? Onde estará a igreja acolhedora, restauradora, servidora, que vive e proclama verdadeiramente o Evangelho da graça de Deus em Cristo?
Plantar igrejas verdadeiramente bíblicas. Formar pastores realmente bíblicos. Este é o desafio.
Vamos pensar urgentemente sobre isso. Que Deus nos abençoe, amém.
Parabéns pelo seu trabalho! Deus seja louvado por sua vida! Tenha uma semana abençoada meu irmão em Cristo Jesus! http://mulheresnopeniel.blogspot.com
ResponderExcluirAh! Já estou te seguindo, obrigada pelo convite!
Obrigado Rosangela, da mesma forma desejo em Deus uma grande semana para vc, fique na Paz!
ResponderExcluirCicero Ramos
paz e graça infelizmente as igrejas mordenas estão tirando o espirito santo da igreja.
ResponderExcluirNão diria "tirar o Espírito Santo" da Igreja, porque isto ninguém pode fazer, mas, conforme escrevi, substituir o que é bíblico por aquilo que é puramente humano, sem atinar para as orientações bíblicas sobre ser igreja bíblica e pastor bíblico. Obrigado por seu precioso comentário, fique na Paz!
ResponderExcluirPaz Cícero,
ResponderExcluirParabéns pela postagem! Precisamos voltar ao
princípio de tudo. O Senhor está voltando e a
sua real igreja (O Corpo de Cristo - incluindo
membros e seu líderes pastores) precisa
despertar urgentemente.
Ah! Já estou seguindo-o.
Um grande abraço.
Pra. Nana Van Vessen
http://maisdavida.com
http://palavradevida.wordpress.com
Obrigado querida pastora, estou acessando agora seus blogs também, fica na Paz!
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