sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

A humildade e submissão de Cristo que a Igreja deveria ter


Hoje é dia 24 de dezembro de 2010 e em todo o mundo cristão comemora-se o nascimento de Jesus Cristo. Natal. Recordamos Seu nascimento humilde e despojado em uma estrebaria de Belém, e tudo o mais que cerca seu primeiro advento entre a humanidade. O Deus conosco, o Emanuel esteve entre nós para que consumasse a obra de salvação em nosso favor. Em tudo, desde seu nascimento, seu crescimento, seu ministério e vida adulta, sua paixão, morte e ascenção cumprindo muitas profecias do AT, podemos fazer um comparativo com a própria Igreja que ele fundou. Uma comparação que demonstrará muitas diferenças, apesar de a Igreja ser o Corpo de Cristo, conforme o NT (e.g. 1 Co 12.27; Ef 5.23).

O que exatamente queremos dizer com isso? É que o Senhor Jesus, por toda sua vida permaneceu humilde, santo e submisso ao Pai que o enviara (Jo 8.55). Todavia, com Sua amada Igreja, pela qual Ele deu Sua vida, não aconteceu da mesma forma. A Igreja de Jesus em seu começo realmente trilhara um caminho de humildade e submissão ao Senhor. Durante seus primeiros duzentos anos, com muita perseguição em seus calcanhares, os grupos de cristãos dispersos pelo Império Romano e a exemplo do apóstolo Paulo, combateram o bom combate e guardaram a fé (2 Tm 4.7) e completavam a carreira na maioria da vezes martirizados, sendo reputado isto pelo apóstolo Pedro como glorioso (1 Pe 3.13-17; 4.12-16).

Ser crente em Jesus nestes primeiros anos significava uma existência sobressaltada. Significava viver sem ter moradia certa, em perigos no campo e na cidade, em passar fome, frio e nudez. E em serem caluniados, atribuindo as autoridades constituídas todo o mal na sociedade aos seguidores do Nazareno e com isso sendo marginalizados cada vez mais. Muitos poucos escapavam de tudo isso. Mas a despeito deste panorama tão sombrio (aos olhos humanos), a Igreja crescia cada vez mais. Muitas pessoas de todas as classes sociais entregavam suas vidas a Jesus e o Evangelho transformava muitos dos antigos perseguidores em dedicados servos do Senhor Jesus.

Até aqui há uma semelhança com o próprio Jesus, no tocante à submissão a Deus e a humildade de vida. Era assim que a Igreja vivia nestes anos em que nem templos, que em nossa época está associado ao "ser igreja de Cristo", existiam. A Igreja de então se reunia nas casas, em cavernas, campos abertos ou qualquer outro lugar em que pudessem estar "dois ou três reunidos em Seu Nome". Perseguidos, sem status de cidadãos, marginalizados e martirizados, entretanto conservava a Igreja a santidade de uma vida pura e vivida realmente de acordo com o padrão do Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Mas, vieram tempos de cessar a perseguição, de pararem a mortes, de terminarem as mentiras das acusações infundadas contra os crentes em Jesus. Se no princípio a ascendência do Cristianismo foi insignificante, nestes novos tempos, a partir da "conversão" do imperador Constantino em 312, cessadas as perseguições, começa a fé cristã a galgar um destaque que antes não possuía. Muitos, principalmente das elites, começam a aceitar a fé em Cristo e lentamente começa a mudar a face da Igreja que antes "não tinha beleza nem formosura" (Is 53.2) assim como Jesus Cristo.

Passa o poder a ser cortejado e desejado na Igreja. A soberba toma lugar da humildade antes tão evidente em meio às perseguições. Posições de autoridade, ascenção na hierarquia eclesiástica (o clero) com um certo distanciamento dos demais cristãos. Prédios são construídos como lugares oficiais de culto. Torna-se desejável a pompa, os aparatos do clero, as aparências tão somente. Aquela primitiva comunidade de adoradores do Cristo ressurreto passa a dar mais valor a tudo isso e semelhantemente à tomada da arca pelos filisteus em 1 Sm 4.21, também foi-se a glória da Igreja por causa da aceitação do mundo e seus valores corrompidos e contrários ao Espírito de Cristo.

Tudo tornou-se diferente. Antes a resignação aos propósitos de Deus. Agora, a soberba em desejar o domínio sobre tudo e sobre todos, à revelia do conselho divino. Com o fim do Império Romano e o começo da Idade Média, o poder papal fica fortalecido e como consequência a Igreja que toma o nome de Católica Romana, realmente toma o lugar formado pelo vácuo pela queda do Império. Ela torna-se na verdade o grande poder que dominou este período da história, domínio este que infelizmente não se traduziu em almas salvas e ganhas para o Reino de Deus (com honrosas exceções) mas em exaltação de valores humanos contrários aos valores de Cristo.

À medida que a Igreja se afasta de imitar a Cristo como sempre deveria ter continuado a ser como nos primeiros anos de sua existência, afasta-se para mais longe da verdade doutrinária com as muitas invenções que papas e concílios introduzem no bojo do ensino cristão. Não houve uma mudança que deformou totalmente as doutrinas bíblicas, mas as que se efetivaram, foram suficientes para abrir um fosso de separação entre a fé dos primeiros anos e o que se aceitava como conteúdo cristão doutrinário no apogeu do Catolicismo na Idade Média.

Esta é a comparação que quis fazer neste texto entre a vida de Jesus Cristo e a vida da Igreja que Ele fundou. Mesmo no início do período de mudanças que começaram a ocorrer e continuando depois, ou seja, Idade Moderna e Contemporânea, a Igreja de Jesus, sempre teve seus "sete mil joelhos que não se dobraram a Baal", seu séquito de fiéis seguidores continuou em linha contínua desde os primeiros anos. O Senhor aqui e ali, sempre tinha aqueles que eram seus, que lhe devotavam total fidelidade, não importando a época ou o lugar. Inclusive, a igreja que se tornou majoritária a partir de Constantino, de perseguida passou a perseguir os verdadeiros servos de Deus, prova disso é o testemunho que a História nos dá. É só lembrarmos do infame tribunal da Inquisição, por exemplo. Ou de cristãos valorosos como Savonarola, Huss ou Tyndale que pagaram com suas vidas o preço de permanecerem fiéis ao Senhor e à Sua Palavra, recusando-se a aceitar o que se aceitava como verdadeiro "cristianismo" em sua época.

E Deus continua trabalhando, através do Espírito Santo, para que a Igreja, aqui e ali, ou seja, em qualquer lugar do mundo em que hajam discípulos verdadeiros, que Lhe sejam fiéis e obedientes à Sua Palavra, possa ser como seu humilde Senhor e fundador, Jesus Cristo. Lembremo-nos neste Natal de como foi humilde a vinda de Jesus a esse mundo e de que Ele viveu toda Sua vida nesta humildade e em plena obediência ao Pai até Sua morte, e morte de cruz. Assim idealmente é como sempre a Igreja deveria ter vivido. No coletivo e no individual somos chamados para assim viver. Humildes discípulos de Jesus Cristo a testemunhar em um mundo carregado de soberba e insubmissão a Deus.

Pense sobre isso nesta celebração de Natal. Que Deus te abençoe.

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