A comunicação entre um ser humano e seu semelhante, é umas das capacidades dadas por Deus que lhe diferencia do restante da criação. Devemos louvar ao nosso Criador por essa capacidade ímpar, que também configura que, de fato somos imagem e semelhança de Deus, pois houve real comunicação entre os membros da Trindade para que o homem fosse criado (Gn 1.26).
A comunicação humana é um processo em que está implícita a troca de informações e utiliza os sistemas simbólicos como aparato para esta finalidade. Neste processo, muitas maneiras de se comunicar estão envolvidas. A forma mais básica são duas pessoas em uma conversa face-a-face. É sobre esta maneira mais comum de interagir com outro ser humano que quero discorrer brevemente.
Todos sabemos que na comunicação efetiva entre duas pessoas estão envolvidos os seguintes elementos: o emissor, o receptor, a mensagem, o canal de propagação, o meio de comunicação, a resposta (feedback) e o ambiente onde o processo comunicativo se realiza. Se algum desses componentes estiver em falta, não poderemos afirmar de que houve comunicação de fato e de qualidade.
Jonathan Swift, autor de Viagens de Gulliver, escreveu sobre onze pecados mortais contra a arte de bem conversar. Veja se você, caro amigo, incorre em algum desses erros: 1- A desatenção de quem ouve; 2- O mau hábito de interromper e de falar ao mesmo tempo; 3- A precipitação de mostrar que se tem espírito e cultura; 4- O egoísmo; 5- A vontade de querer dominar a conversa e o assunto; 6- O pedantismo (pedante: quem se expressa exibindo conhecimentos que realmente não possui, impostor, vaidoso, pretensioso, que ostenta erudição rebuscada, afetada e livresca, afetado, amaneirado; alardear sabedoria que não têm); 7- A falta de seguimento na conversa; 8- O vício de sempre querer fazer graça; 9- O espírito de contradição; 10- Trazer à baila assuntos pessoais em detrimento dos de ordem geral; 11- A falta de calma na apresentação de argumentos.
A conversa, o bate-papo, a comunicação, enfim, que entabulamos com nosso parente, vizinho, colega de trabalho ou qualquer que seja nosso interlocutor, deve ser objeto de nosso maior cuidado e respeito. Constato que estamos perdendo a capacidade inata que temos, graciosamente dada pelo Senhor, de termos uma comunicação de qualidade. Quase todos nós estamos incorrendo nos erros que magistralmente Swift nos revelou. As conversas não mais se constituem em diálogos construtivos e enriquecedores para ambos, mas muitas vezes são monólogos onde predomina a presunção do único que detém a palavra, em uma insuportável chatice monopolizante.
É realmente de amargar a vida quando encontramos alguém que interrompe a toda hora a nossa fala, que não presta atenção ao que estamos dizendo, que tem um evidenciado afã de demonstrar que conhece de todos os assuntos, seguindo-se a isto um insuportável pedantismo, que sempre tem uma piadinha (na maior parte das vezes, sem-graça) engatilhada quando nem sempre o momento é adequado e nisto já poderemos estar esgotados em nossa paciência em ouvir os gracejos de nosso interlocutor, quando ele reiteradamente insiste em trazer assuntos ou experiências de sua órbita pessoal, quando não é a hora e nem o momento para fazê-lo, tornando-se assim propositadamente o centro das atenções. Tudo isso tem acontecido em nossos contatos diários, porque estamos nos deseducando para a comunicação efetiva e qualitativa.
Tenho encontrado em meus contatos diários, pessoas que não sabem se comunicar. Acredito que precisamos de uma comunicação reflexiva. Ou seja, uma reeducação comunicacional. Eu mesmo tenho incorrido em alguns dos erros descritos. Não quero aqui defender-me. Eu preciso aprender a comunicar-me melhor. A qualidade na comunicação é algo muito importante para todos os segmentos da sociedade humana.
Para nós, servos de Deus, discípulos de Jesus Cristo, imbuídos que estamos de uma nobilíssima missão, anunciar o Reino de Deus a todas as pessoas e em todas as etnias, precisamos muito mais nos esforçar para dominar a arte de bem conversar. Em nosso meio cristão, infelizmente são muitos que comunicam-se de forma desastrosa. Alguns gostam de monopolizar as falas em qualquer situação. Sempre possuem uma experiência para contar. Demonstram um narcisismo sem igual, sempre alardeiam suas histórias aos quatro ventos. Mas, com isso, como muitas vezes tem ocorrido, menosprezam seu irmão por não dar o devido valor às narrativas deste. Visto que tomam todo o tempo em sua imoderada prática, com isto demonstram seu inegável egoísmo nas conversações.
Na comunicação entre dois seres humanos é desnecessário ressaltar de que precisamos saber ouvir. É por não sabermos ouvir o que o outro tem a nos dizer que pecamos no ato da comunicação. Desrespeitamos, menosprezamos, não estamos interessados em ouvir realmente o que o outro tem a nos dizer. Somente nos interessa o que temos a falar. Temos por certo que esta inadequação em nos expressarmos poderá nos ocasionar o que está escrito em Pv 10.19: “Nas muitas palavras não falta transgressão, mas o que controla seus lábios é sensato” (Almeida Séc. 21).
A Trindade é o maior exemplo para o crente em Jesus de plenitude na comunicação. Lógico, falamos de Deus e de Sua inalcançável perfeição para nós, criaturas finitas e pecadoras. Mas devemos lembrar de que somos feitura Sua, somos obra-prima de Suas mãos, somos imagem e semelhança do Senhor. A perfeita comunicabilidade que há entre as três Pessoas da Trindade deverá nos inspirar na busca de uma melhor comunicação entre nós, irmãos em Cristo, igualmente.
Sendo assim, querido irmão e conservo em Cristo Jesus, se você puder agora mesmo, pense nisto.
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