Se há algo que é de muita valia para o cristão é de uma experiência mais profunda com Deus. O episódio da transfiguração do Senhor Jesus em Mt 17.1-9 aqui é o nosso parâmetro. Jesus e seus discípulos vinham de um trabalho ministerial exaustivo. Estavam em Cesaréia de Filipo (16.13) e passada uma semana, conduziram-se a um alto monte, que segundo alguns estudiosos, bem pode ser o conhecido monte Hermon. Ali o Senhor transfigurou-se diante deles. Sua glória foi revelada aos três discípulos que ali estavam. O ambiente transformou-se, e não apenas o Senhor. Ali, podemos assim dizer, o céu “baixou” e eles encontravam-se na presença imediata e bendita do Senhor de todo o Universo. Também dois ilustres servos de Deus, Moisés e Elias, ali comparecem e dialogam com Jesus. Era realmente um momento de grande glória e emoção. Tanto que Pedro falou o que desejava fazer mas sem todavia compreender a magnitude e a natureza daquele evento majestoso.
Eu creio que precisamos de uma experiência com o sublime. Precisamos de uma experiência com o inefável. Precisamos ser revestidos da glória so Senhor.
Notemos que aqueles homens e Jesus, saíram das experiências corriqueiras de seu cotidiano e retiraram-se para um local isolado. Neste caso, um alto monte. Isso deve ser ponderado. Sair de nosso lugar comum, distante da agitação própria da vida moderna e buscar a Presença de Deus, fará uma diferença enorme e acrescentará qualidade e aprofundamento em nosso relacionamento com o Senhor.
Não queremos dizer com isso que, necessariamente, este lugar retirado tenha de ser literalmente um “alto monte”. Mas pode ser qualquer lugar em nosso mundo em que possamos nos retirar e estar a sós com Deus. Jesus disse em Mt 6.6 que devemos entrar em nosso aposento e buscar a Deus. Este lugar tanto pode ser o nosso próprio quarto de dormir como o banheiro da empresa em que trabalhamos, por exemplo. O que importa é considerar em si o ato da “retirada para um lugar secreto e isolado”. Isto deve ser plenamente considerado.
Pergunta-se: Semelhantemente como em Mt 17, o céu poderá “descer” até nós? Sim e não. Como? Nem sempre apraz a Deus manifestar-se de uma forma que diríamos “espetacular”. Nem sempre haverão “rostos resplandecentes como o sol” e “vestidos brancos como a luz” (17.2). Diríamos que, na grande maioria das vezes, o Senhor se manifestará no silêncio. Mas nem por isso deixa de ser uma real experiência de glória. Agora, quando tivermos uma manifestação visível, palpável, sempre deveremos lembrar as palavras sábias do apóstolo Paulo em 2Co 12. Ele fala que efetivamente fôra arrebatado ao terceiro céu e tanto viu como ouviu palavras inefáveis. Mas o que se destaca nesta passagem é a humildade cuidadosa de Paulo em não declarar abertamente que era ele mesmo quem havia sido arrebatado à Presença de Deus. A experiência de glória desta forma explícita pode ter o condão de mexer com nossa vaidade humana.
Mas mesmo diante desta possibilidade, reafirmamos a importãncia singular deste componente para a vida do cristão. O profeta Isaías foi outro exemplo desta experiência com o sublime. No capítulo 6 de seu livro, lemos que o profeta “viu o Senhor assentado sobre um alto e sublime trono.” Viu igualmente serafins ao redor d’Ele. Embora considerando-se impuro (v.5) assim como ao seu proprio povo, Deus ainda assim revelou-se ao seu servo, purificou-o (vs 6,7), fez um apelo ao profeta, imediatamente correspondido (v.8) e então O comissionou (v.10). Mas tudo isso teve seu começo com a visão inicial de Deus, ou seja, de uma experiência de glória.
Outro profeta que também teve esta bendita experiência foi o profeta Ezequiel. Teve uma visão tremenda do Senhor em sua Glória, viu rodas cheias de olhos, viu seres viventes, viu o trono do Onipotente. Ezequiel foi inundado desta magnifíca glória. Mas, notemos que o profeta, um mero ser humano, não pôde ficar de pé diante da visão desta glória inaudita. Caiu sobre o seu rosto. Mas o Senhor ordenou que se levantasse e falou-lhe, comissionando-o assim como fez com Isaías para que fosse seu mensageiro entre os judeus rebeldes (Ez 1.1-28; 2.1-8).
Irmãos, creio que todo crente em Jesus Cristo, mais cedo ou mais tarde, deverá ter uma experiência deste porte em sua vida e ministério. Digo todavia, que esta experiência, este marco que se consolidará nele, não tem de ser exatamente igual ao que acabamos de ler como na transfiguração de Jesus ou como nas visões de Isaías e Ezequiel. Mas eu creio que devemos esperar de alguma forma a manifestação definida e específica de Deus para nós. Não estou fazendo disso uma regra. Não estou pontificando de que toda nossa vida com Deus esteja concentrada ou que esteja convergindo para este ponto, necessariamente. Mas creio que o Senhor tem interesse em marcar a vida de Seus servos com um encontro significativo e inesquecível.
Poderíamos ainda citar mais três exemplos para corroborar nossa tese. Jacó (Gn 32.22-32), Moisés (Ex 3 e 4) e Elias (1Re 19.8-21). Jacó lutou com o Anjo do Senhor em Jaboque e ali sua vida e seu nome foram transformados, Moisés viu a maravilha que era um arbusto arder e não se queimar e através disto encontrou-se com Deus e sua vida foi reorientada para atender ao chamado divino e Elias, com temor das perseguições da perversa Jezabel, reanimou-se no Senhor após ouvir uma “voz mansa e delicada”. Interessante nesta passagem é que antes de ouvir a voz do Senhor, três fenômenos naturais com toda sua intensidade que poderiam levar o profeta Elias a entender que por causa da potência daqueles elementos, o Senhor estaria ali, manifestando-se daquela forma: um forte vento, um terremoto e um fogo. Nenhum deles. A experiência de glória de Elias aconteceu por meio da voz mansa e delicada que ouviu.
Assim, quer seja de forma deslumbrante, espetacular, apoteótica, ou, simples, tranquila, suave, reputamos como deveras importante um encontro diferenciado com o Senhor que seja singular, significativo, transformador e único para todos aqueles que dispuserem seu coração e sua vida para serem inteiramente d’Ele e serem usados por Ele para a Glória devida ao Seu Nome.
Pense nisso e que o Senhor permita que entremos em Sua presença, em Seu santuário, que tenhamos uma experiência de glória e que nunca mais sejamos os mesmos a partir de então. Amém!
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